"César Peixoto tem 45 anos, Vasco Botelho da Costa apenas 36, Hugo Oliveira soma 46 primaveras.
No Minho, separados por escassos quilómetros e paisagens belíssimas, moram três treinadores de competência louvável, todos a justificarem manchetes e loas.
O Gil Vicente, o Moreirense e o Famalicão jogam um senhor futebol, atraente e competitivo, e andam a morder os pés aos maiores do nosso campeonato.
Três histórias muito diferentes entre si, três percursos a comprovarem que a excelência pode ser adquirida de várias formas e que a academia e o campo são laboratórios compatíveis.
O enaltecimento das façanhas de César, Vasco e Hugo é a reposição de uma justiça tantas vezes esquecida e outras direcionada somente ao trajeto dos três do costume, não fosse o nosso país um péssimo exemplo de equidade na distribuição de paixões e influências desportivas.
Peixoto tem atrás de si uma interessante carreira de futebolista. Criado no Caçadores das Taipas, moldado no Restelo e coroado no FC Porto pela exigência de José Mourinho, o antigo esquerdino foi campeão da Europa e ganhou quatro campeonatos – dois já no Benfica.
É treinador desde 2018, leva 96 jogos na I liga e em Barcelos confirma todas as suspeitas erguidas em trabalhos anteriores: a maturidade pode tardar, mas a dada altura lá se cruza com o conhecimento - a relação só pode dar bom resultado.
Nas oito jornadas, o Gil perdeu só na receção ao FC Porto e na visita à Luz.
Mais do que isso, mostrou ao planeta-futebol a dimensão supra do talento de Luís Esteves, um lateral esquerdo de alto nível chamado Ghislain Konan e os muitos golos de Pena júnior (aka Pablo Felipe).
O lisboeta Vasco não possui passado de jogador, mas terá feito a licenciatura de todas as agruras e limitações nos oito anos dedicados ao GDS Cascais. Aos 29 anos, o Estoril Praia abriu-lhe as portas dos sub17 e o tic tac da ascensão arrancou rapidamente.
Bicampeão da Liga Revelação, bicampeão da Taça Revelação, vencedor da Liga 3 e vice-campeão da II Liga, tudo num ciclo de cinco anos. O Moreirense, habitualmente atento aos escalões secundários, escolheu-o no passado verão. Em boa hora.
Quatro jogos, quatro vitórias na caixinha de fósforos em Moreira de Cónegos, gente muito capacitada em todos os setores, futebol simples, convicto e operacional.
Destacaria, por ora, o lateral Dinis Pinto, o levezinho Alanzinho e o goleador Schettine, finalmente a confirmar o que se lhe augurava nos tempos do Santa Clara. Além de Vasco Sousa, naturalmente, o médio sempre em pé emprestado pelo FC Porto.
Se César tem a carreira de jogador e Vasco a ligação ao futebol do fundo da pirâmide, Hugo Oliveira transporta a paixão inicial pela baliza e o trabalho ao mais alto nível no Benfica, na Seleção Nacional e em sete épocas e meia de futebol inglês. Um mestrado inigualável.
Não fosse o milagre dos 28 remates sem golos contra o Rio Ave (um recorde na falta de finalização) e o Fama estaria de braço dado com o Moreirense nos 15 pontos, a um do fantástico Gil Vicente de Peixoto. O tempo normalizará a qualidade dos famalicenses.
Atraentes no jogo jogado, perspicazes na defesa da baliza, os homens de Hugo Oliveira estão a fazer esquecer a grave lesão do artista Aranda e a exibir nomes de qualidade excelsa.
Saliento o papel de Carevic na baliza, de De Haas no centro da defesa, de Rodrigo Pinheiro no lado direito e de Gustavo Sá a fazer tudo bem com bola.
Este é o país europeu rei na falta de paciência com treinadores, o país em que os projetos são lindos de morrer no papel e um absurdo no dia a dia, o campeonato em que pegar no chicote e eliminar uma equipa técnica inteira é uma tentação demasiado grande demasiadas vezes.
Há vida, qualidade e trabalhos extraordinários para lá dos três grandes. César, Vasco e Hugo, falem-me por favor destes senhores treinadores.
PS: sugiro a leitura das entrevistas do zerozero a César Peixoto AQUI e a Hugo Oliveira AQUI. Além de competentes e inteligentes, comunicam como poucos. E isso faz toda a diferença. Já perceberam que o convite a Vasco seguirá para Moreira de Cónegos muito em breve."

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