"No passado dia 25 de Março, o SL Benfica fazia questão de arrefecer os ânimos histéricos com a possibilidade de Diego Costa se juntar às suas fileiras. Num comunicado oficial, sublinharam-se as prioridades, que passam pela conquista de todos os jogos até final da temporada. Contratações? Só depois.
Diego Costa seria mais um a chegar a Lisboa a “custo zero”, numa longa linhagem de 64 nomes desde que Luís Filipe Vieira se juntou à direção encarnada – primeiro enquanto administrador da SAD e diretor desportivo, e depois como presidente.
Marco Caneira, Fyssas, Karagounis, Rui Costa, Nolito, Sulejmani, Taarabt, Carrillo, Zivkovic, Seferovic e o último, Vertonghen, são alguns dos nomes mais destacados que chegaram à Luz por essa via negocial e ajudaram os encarnados a baixo custo, quando comparados com outros colegas que exigiram esforços financeiros mais significativos, nem sempre justificados.
Enunciaremos então cinco nomes que marcaram o seu nome na memória coletiva por razões díspares – uns pela evidente qualidade e números estratosféricos, outros pela relação que conseguiram criar com os adeptos, outros até pela misteriosa forma como encararam a fase portuguesa das suas carreiras como intervalo para ganhar fôlego.
1. Jonas (2014/2015) – Nuno Espírito Santo chega a Valência para guiar os “Che” de volta ao topo do futebol espanhol. Estamos em 2014, Real Madrid CF e FC Barcelona são as melhores equipas do mundo – e o treinador português entende que a melhor coisa a fazer é reestruturar o plantel, com Jonas a perder espaço para Negredo e Paco Alcácer.
O brasileiro compreende, agradece a sinceridade, rescinde contrato e espera pacientemente por contactos. O SL Benfica tinha ficado sem Rodrigo e Cardozo, e só Lima assegurava poder de fogo, além de Talisca. Oportunidade perfeita? Sim, disse Jonas, que ao primeiro toque na bola de águia ao peito aproveita para fazer um “cabrito” a um adversário, no círculo central. Aí, todos sem exceção, perceberam o que se seguiria. Até Nuno.
2. Júlio César (2014/2015) – Na baliza oposta e com olhar atento estava Júlio César, à altura o melhor guarda-redes do planeta. Se não era difícil proteger as redes numa defesa com Maicon, Lúcio, Samuel, Córdoba ou Zanetti, o brasileiro era também um pronto-socorro na Canarinha, justificando a cada jogo o seu estatuto de imprescindível.
Com a saída de Mourinho, ele e o FC Inter não conseguiram manter o nível, numa equipa com média de idades mais avançada do que o aconselhado. Júlio César sairia pouco depois rumo à Premier League, seduzido pelo projeto inovador do Queens Park Rangers fC (onde já estava Adel Taarabt). Não resultou, o clube desceria para o Championship.
Seguia-se o Toronto FC, que competia na MLS e não exigia ao brasileiro compromisso máximo – esta sequência de experiências negativas desembocou no vexame do Mundial 2014. No desastroso 1-7 frente à Alemanha em pleno Maracanã, Júlio foi visto como um dos grandes responsáveis e é neste contexto que aparece o SL Benfica – o casamento perfeito, já que os encarnados precisavam de qualidade imediata depois da saída de Oblak e ele de um grande clube, para se reabilitar em termos emocionais.
Em Lisboa é tricampeão, servindo também como tutor de Ederson Moraes.
3. Hans-Jorg Butt (2007/2008) – Hans Jorg Butt construiu carreira muito respeitável na primeira década dos anos 2000: começa por ser titular na final perdida pelo Bayer 04 Leverkusen frente ao Real Madrid CF, em 2002, e termina na baliza do FC Bayern de Munique, no jogo final da Champions 2009-10, frente ao FC Inter de José Mourinho.
Perdeu as duas vezes – não lhe deram oportunidade para marcar uma grande penalidade, exercício através do qual conseguiu 26 golos –, mas que não se pense ser obra do acaso ou testemunho curto da sua competência. Ao serviço da seleção, vai aos Mundiais de 2002 e 2006, já depois do Euro 2000, sempre na sombra do inevitável Oliver Kahn.
Causará estranheza, portanto, a quem aferir os dados do currículo, observar que num SL Benfica instável (que terminou a Primeira Liga no quarto posto) não tenha conseguido ultrapassar a concorrência de Quim – somou 1 jogo apenas, em substituição deste numa partida para a Primeira Liga. Estávamos em 2007 e poucos adivinhariam que seria ele a sofrer o bis de Milito naquela noite no Bernabéu, uns anos depois…
4. Geovanni (2003/2004) – Depois do empréstimo para a segunda metade de 2002-03, a desvinculação junto do FC Barcelona proporcionou ligação permanente ao SL Benfica até 2006. “Soneca” para a massa adepta, que demorou a compreender a forma descomplexada como o brasileiro encarava as épocas: para marcar sempre aos adversários mais fortes, havia que se conservar em desafios de menor importância.
Marca em Alvalade na penúltima jornada de 2003-04, assegurando a qualificação para a Champions à lei da bomba. É ele quem assegura o golo do empate no Dragão, em 2004-05, jogo crucial para o título de Trapattoni. No mesmo ano, alia-se a Simão e elimina o Sporting CP da Taça de Portugal (naquele elétrico 3-3), e é dele o golo que elimina o grande Manchester United FC de Alex Ferguson no ano seguinte, num salto à peixinho que pôs a Luz em delírio.
A Inglaterra chega em 2007, para representar os rivais da cidade – no Manchester City FC estreia-se frente ao West Ham United FC com um golo. Na semana seguinte, outra vez o Manchester United FC pela frente e outro golo, desta vez num remate fora da área. Mas ainda não acabou: no ano seguinte é contratado pelo Hull City FC, acabado de subir pela primeira vez na história à Premier League. Não é preciso dizer quem marcou o primeiro golo de sempre, pois não?
5. Nuno Gomes (2002/2003) – Voltou a Lisboa de contrato na mão, depois da falência técnica da Fiorentina FC. O crescimento tático naquela Serie A, o melhor campeonato europeu à altura, retirou-lhe confiança com o golo – no SL Benfica, de 1997 a 2000, marca 71 vezes em pouco mais de 120 jogos, mostrando apetências fabulosas para a finalização.
No auge das suas potencialidades, viaja até aos Países Baixos selecionado por Humberto Coelho para o Euro 2000 e torna-se o melhor marcador da competição, o que lhe valeu o contrato italiano. Em Itália foi treinado por Fatih Terim e Mancini, partilhou balneário com Rui Costa ou Chiesa e aprimorou noções táticas, que o transformaram num portentoso jogador de equipa – o que lhe custou a proximidade com a baliza adversária.
Só Koeman, em 2005-06, o conseguiu espevitar nesse sentido, numa primeira volta portentosa com 15 golos, dois deles no Dragão, uma vitória encarnada na Invicta que não acontecia desde o bis de César Brito, em 1992!"