"Pormenores. São eles que traçam a muy ténue linha entre a ribalta e a desilusão. E foi nesta fronteira onde sempre viveu Adel Taarabt.
O marroquino destaca-se pela forma como consegue romper linhas adversárias em condução e, sobretudo, através do passe, aproximando, assim, a equipa do golo; por outro lado, é no próprio passe onde falha mais vezes, dado o risco que cada bola sua comporta. É o primeiro a deslocar-se a alta velocidade no momento de reação à perda; e são essas mesmas ações que o desgastam de sobremaneira, impossibilitando-o de passar a barreira dos 60min com frescura física e mental que lhe permitam manter o nível durante todo o jogo. Ao contrário do que muitos dizem, o marroquino raramente se coíbe de defender; porém, encontra-se sempre mal posicionado (pois, com bola, foge bastante da posição e não antecipa uma eventual perda) e entra sempre de primeira no desarme, acumulando um sem número de faltas escusadas e que lhe valem cartões. Resumindo, Adel Taarabt é adorado por muitos, mas odiado (incompreendido?) por outros tantos. De facto, a vida do marroquino sempre foi feita de contrastes, os mesmos que compõem este parágrafo que acabou de ler.
O que muitos desconhecem é que, no passado, Taarabt era apontado como uma estrela emergente. Aos 17 anos, o “miúdo” natural de Fès estreava-se pela equipa principal do primodivisionário Lens. O Tottenham acabaria por assegurar o wonderkid em 2006/07 por empréstimo dos franceses. No entanto, seria no Queens Park Rangers que Taarabt viveria a melhor fase da carreira.
Com apenas 22 anos, Taarabt seria peça basilar duma equipa adquirida por Tony Fernandes, empresário malaio que se tornara dono do clube londrino. Contabilizando 19 golos em 44 jogos, o médio ofensivo acabaria por vencer o prémio de melhor jogador do competitivo Championship, sendo a figura de proa dos campeões QPR. Ingressaria no AC Milan por empréstimo, apesar do interesse do PSG, que nessa época já atacava o mercado com um grosso punhado de petrodólares. Apesar de se ter exibido a bom nível pelos milaneses, voltaria ao QPR, perdendo espaço época após época, até chegar ao Benfica. O resto, já sabemos…
Incrível como algumas lesões, um aumento de peso descontrolado e casos de indisciplina pelo meio desviaram Adel daquilo que poderia ter sido uma carreira de altíssimo nível internacional, onde nunca uma equipa do campeonato português se atreveria sequer a apresentar-lhe uma proposta. Não fosse Bruno Lage a tirá-lo da lama, e Taarabt poderia até, neste momento, ser um jogador aposentado.
No atual Benfica, Adel continua a viver no risco. As suas ações tanto podem culminar numa assistência que mais ninguém no campeonato teria capacidade para antever e executar, como em transições que comprometem toda uma equipa. Junte-se a isto o facto de coabitar num meio-campo a dois no qual, independentemente do médio que jogue atrás de si, o equilíbrio nunca estar garantido. Quão confortável estaria o marroquino a jogar a 10 num 4-3-3, onde os outros dois companheiros de setor acautelariam as suas perdas de bola, bem como o libertariam para que o mesmo deambulasse pelo último terço, em busca do último passe que tanto o destaca? E quão conservada estaria a sua condição física à entrada para a última meia hora, se este não fosse obrigado a deslocar-se tão intensamente para defender?
Neste período atípico que o Benfica atravessa, as dúvidas pairam sobre todos os jogadores, sem exceção. Contudo, nunca a qualidade poderá ser um problema e, neste sentido, resta a Jorge Jesus ter a arte e o engenho de enquadrar Taarabt da melhor forma, ajudando-o e ajudando a equipa a minimizar os seus erros em situações de risco, mas também zelar para que a sua melhor versão consiga continuar a alimentar as zonas de finalização como pouquíssimos em Portugal conseguem fazer. É claramente um jogador diferenciado pela refinadíssima qualidade técnica, mas também pela visão de jogo.
Compreenda-se o incompreendido. Pois Taarabt despertou apenas há dois anos e, felizmente, também já se terá compreendido a ele próprio."
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