"Se, entretanto, a situação não se degradar, a 1.ª Liga regressa daqui a sensivelmente um mês. É a solução ideal? Claro que não, é a solução possível num contexto de enorme incerteza. Acima de tudo, é a resposta a uma necessidade: sem competição, o futebol português colapsaria financeiramente.
O motivo para o regresso da 1.ª Liga não é, no essencial, o apuramento de um campeão, nem a determinação de quem vai à Europa e desce de divisão. O campeonato vai recomeçar porque não o fazer condenava à pauperização (quase) irreversível de grande parte dos clubes. Com jogos, mesmo que à porta fechada, regressam também as receitas televisivas - principal fonte de financiamento para a maioria dos clubes, que praticamente não têm receita de bilhética, quotização ou transferências. Aliás, o ponto é mesmo esse: quem menos precisava do regresso do futebol são os clubes que dependem menos da receita televisiva (os três grandes e o Sp. Braga, clubes em que o peso das transferências tem ganhado terreno). Pelo contrário, são os restantes clubes que se revelariam inviáveis sem transmissões.
Não devemos, também, menosprezar o sinal dado ao conjunto da sociedade com o regresso da competição. A fadiga do confinamento é evidente e o futebol ajuda a que velhas rotinas voltem. Além do mais, com jogos à porta fechada e rigorosos protocolos de acompanhamento de atletas, fica também dado o exemplo do que deve ser o novo normal - elementos de continuidade com o nossos quotidiano antes da Covid-19 que coexistem com importantes rupturas.
Mas, como sugeria Fernando Gomes num artigo publicado ontem, a Covid-19 questiona o futuro do futebol português.Na verdade, o sector não é excepção: também para o desporto-rei, a crise vem expor debilidades preexistentes e reforçar um conjunto da tendências. Como sempre acontece face a choques exógenos profundos, não é só a viabilidade de curto prazo que é ameaçada, é, também, a sustentabilidade futura que fica em risco.
O futebol português é, em muitos aspectos, um exemplo: com poucos atletas federados, num País com défices de prática desportiva e debilidade no associativismo de base, temos resultados desportivos e financeiramente bem acima do que seria previsível. Alguma coisa terá, por isso, sido bem feita. Mas esta avaliação positiva não nos deve impedir de olhar para debilidades estruturais que se tornarão mais visíveis: da dificuldade das entidades reguladoras em actuarem, passando pela fragilidade das instâncias associativas em promoverem convergências, culminando num clima adversartivo irrespirável, alimentado pelos clubes e que encontra eco na comunicação social.
É possível contrariar esta tendência? Fernando Gomes faz bem em revelar preocupação e mostrar ambição, mas temo que o futuro do futebol português não seja muito distinto do passado recente. Como uma diferença, será mais pobre."
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