"Os adeptos querem ganhar sempre e entendem mal as preocupações de quem tem a responsabilidade de aplicar uma gestão equilibrada, exercício bem difícil de fazer por causa de incontrolável tendência para o excesso nos gastos, que um título perdoa, mas não resolve. Espécie de alegre passeio para o abismo em que mais cedo ou mais tarde todos os clubes vão cair se não houver alguém com o mínimo de lucidez que se aperceba da inevitabilidade da queda, corrija o erro e invista em medidas porventura acolhidas com relutância pelo espírito imediatista das massas apoiantes, porque reagem todas da mesma maneira, mas determinantes na protecção do presente e na construção do futuro, sem prejuízo das ambições.
Permita-se-me este arrazoado como despretensiosa tentativa para explicar a mudança operada na política do futebol profissional do Benfica, prometida e, sobretudo, desejada tendo em vista a saúde financeira da instituição, o que não significa que estivesse doente, mas, pelo andar de carruagem, talvez corresse o perigo de poder adoecer a qualquer instante caso fosse sujeita a tratamento adequado...
Mera dedução especulativa da minha parte, sim, mas reparo no cuidado que tem existido sobre o controlo da (boa) relação entre o deve e o haver, o que permitiu aos sócios do emblema da águia aprovarem um relatório de gestão e contas do último período com saldo positivo, o que se verifica pelo sexto ano consecutivo. Paralelamente, a SAD viu reduzido o que chamam passivo consolidado em cerca de 20 milhões de euros, apesar de se manter elevado, o que não quer dizer desgovernado.
No essencial, é isto o que Luís Filipe Vieira pretende: chegar mais longe nos projectos desportivos, e não só, através de mais rendível aproveitamento de recursos próprios. Ou seja, dar mais atenção aos meios na consecução dos fins.
O adepto comum pode pensar, e apregoar até, que quer ver a sua equipa vencer nem que seja com um golo com a mão e em fora de jogo, mas o dirigente responsável não pode, ou não deve, hipotecar o clube, gastando o que não tem em troca de uma vitória ou de um título. Porque, esgotados os aplausos e alimentadas as vaidades, na maioria de casos apenas se enxerga o vazio e a ruína: basta olharmos nos exemplos à volta...
Vieira não queria ser só campeão, mas sim bicampeão, e com certeza que teve as suas razões para apostar nessa ousada estratégia. No entanto, feita a festa e acertadas as contas, concluiu, provavelmente, que os títulos, apesar de celebrados expansivamente pela nação benfiquista, lhe custaram caro. Visto de outra forma: podiam ter sido mais baratos se fosse outra a filosofia seguida. Simples e claro, parece-me, depois do sinal que faltava para serenar a família benfiquista e que foi dado na recente viagem ao Luxemburgo. Luís Filipe Vieira não podia ter sido mais esclarecedor em três passagens:
1. «O Benfica nunca dá um passo atrás. Sabemos que estamos a dar muitos passos à frente. Queremos que este Benfica seja sustentável, que seja um Benfica com a identidade própria do Benfica e, se possível, com jogadores na formação.»
2. «É um ano de mudança, decisivo para muitas gerações.»
3. «A curto prazo, muitos podem não entender as nossas razões, mas o futuro passa por estas opções estratégicas que vão definir o futuro do Benfica.»
O presidente benfiquista prometeu ainda que «nunca mais» voltarão os tempos em que «o clube quase desapareceu». Sábia e oportuna referência: afinal, não foi assim há tanto tempo, mas a memória das pessoas é curta, desoladoramente curta..."
Fernando Guerra, in A Bola
Mas se há falta de recursos como se explica o "negócio" do Gimenez e os flops contratados em vez de reforçar os pontos fracos do plantel?
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