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sexta-feira, 25 de julho de 2014

O estatuto

"Agora que chegou aos 60 anos, Jorge Jesus pode orgulhar-se de ter como treinador o que poucos treinadores têm: estatuto!

Jorge Jesus chega aos 60 anos com a fantástica felicidade como treinador de futebol de poder exigir que lhe seja reconhecida competência. Jesus é um grande treinador de futebol e um profissional de mão cheia. É determinado e apaixonado. Ambicioso e obcecado.
Podemos - e devemos - discutir o feitio, a personalidade, alguns comportamentos e algum discurso de Jesus. Mas não o , talento.
Jesus comete erros? Claro que comete. Cometeu-os e voltará, certamente, a cometê-los. Jesus toma sempre boas decisões? Claro que não. Escolhe sempre os melhores jogadores? Nem sempre. Acerta em cheio nas contratações? Às vezes.
Mas o talento de Jesus como treinador, esse é indiscutível.
Pode e deve Jesus reclamar, pois, louros. E mais do que os títulos que já conquistou na Luz, Jesus pode e deve reclamar, sobretudo, o louro de ter devolvido ao Benfica e aos adeptos o orgulho de ver bom futebol.
Os títulos são o essencial, pois claro, e no futebol quem não vence acaba, normalmente, esmagado.
Jesus já ganhou duas vezes o campeonato, mais uma Taça de Portugal, mais quatro Taças da Liga e ainda chegou a duas finais da Liga Europa, e isso ninguém lhe tira.
Mas fez, realmente, mais do que isso. Valorizou jogadores, potenciou-os, ensinou-os, tirou deles o que outros treinadores não conseguem e levou o Benfica a fazer, nos últimos cinco anos, mais de 250 milhões de euros de receitas em transferências.
Mais: Jesus nunca tirou os olhos do futebol de ataque e de construir equipas que só fazem bem ao futebol porque jogam o que os adeptos gostam.
E o futebol são quem o jogo e que o vê.
Jorge Jesus já deu, pois, muito ao Benfica, mas deve reconhecer que o Benfica não lhe deu menos. E deu-lhe, talvez, aquilo que mais raro é na vida de um treinador, sobretudo em Portugal: estatuto!
Em termos de resultados, a vida de Jesus tem sido na Luz uma montanha-russa. Campeão no primeiro ano, desaires sucessivos nas três Ligas seguintes, e o memoravelmente negro final de época de Maio de 2013 são dados suficientes para se perceber que o percurso esteve longe de ser cor de rosa.
O habitual no futebol é ver o treinador ser afastado após a queda, e é por isso que todos reconhecemos hoje o fantástico mérito do presidente do Benfica ao segurar Jesus.
É isso que dá estatuto a um treinador.
Ser reconhecido por ganhar é normal, como se sabe, dificílimo é o contrário. E Jesus pode orgulhar-se de ser dos poucos treinadores da história do futebol português a ver reconhecida a sua capacidade mesmo na hora de perder tudo.
Em Portugal, ninguém está cinco anos no mesmo clube e muito menos num dos grandes clubes.
Também ninguém renova o contrato de um treinador que tudo esteve para vencer e tudo perdeu.
É por isso que Jesus pode, hoje, afirmar convenientemente o seu estatuto de grande treinador e grande líder.
Que jogador chega hoje à Luz e se atreve a questionar o treinador?
Nenhum.
O presidente do Benfica não confiou apenas no treinador; deu-lhe condições de trabalho excepcionais; recrutou-lhe profissionais para todos as áreas técnico-científicas; contratou-lhe jogadores, e pagou-lhe um salário a condizer.
Além disso, ainda lhe deu tempo.
E no futebol, talvez o tempo seja o mais importante para um treinador.
Pôde Jesus criar raízes e pôde a raiz dar-lhe estatuto. O tal estatuto decisivo para o líder de qualquer equipa, muito mais de uma equipa de futebol.
No Benfica, e graças ao presidente, o treinador ganha ao nível de um grande jogador.
E bem.
No Benfica, o automóvel do treinador não deslustra no parque de estacionamento, bem pelo contrário.
É tudo isso que confere ao treinador o tal estatuto! Jesus pode ter nascido - e nasceu - para ser treinador de futebol mas também reconhecerá que é hoje melhor treinador do que era quando chegou à Luz. Mas não é só melhor treinador e um treinador com enorme talento; é um treinador com estatuto.
Isso é raro e deve saber bem.
Merece Jesus o estatuto que tem? Claro que merece, não apenas pela competência mas talvez até em particular pelo profissional rigoroso e dedicado que é.
Agora que vai enfrentar o maior desafio desde que chegou à Luz, o de reconstruir a equipa, mais do que nunca Jesus precisa da sua melhor receita, podendo, ao mesmo tempo, trabalhar desta vez sob a menor das exigências (sem tantas das estrelas do passado).
Está num clube que precisou manifestamente de inverter o caminho do investimento e deve apenas explicá-lo aos adeptos se não quer perder apoio.
Continuará com o objectivo de ganhar.
Vai ter muito trabalho, como ele gosta, precisa de ser audaz, estratega e de uma pontinha de sorte.
Mas sabe, mais do que nunca, que pode fazer valer o que poucos têm: o estatuto!"

João Bonzinho, in A Bola

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