"Quando Jorge Jesus assumiu o cargo, os benfiquistas torceram o nariz, não pela capacidade ou provas dadas, mas por mero preconceito social. Preferiam o perfil elegante, cosmopolita e bem-falante de um Quique qualquer e sentiam-se ridicularizados pela figura glosada em todos os programas de humor. O futebol encarnado era então gerido de forma caótica, à mercê de todo o oportunismo e de gritante incompetência, intervalado episodicamente pelo génio de Trapattoni.
Quatro anos passados, Jesus é reconhecido como o mais consensual, o mais genuíno, transparente e intelectualmente honesto dos treinadores. Não procura ser mais importante do que é, não apouca o trabalho dos colegas, embora não fuja dos confrontos e polémicas, respeita os jogadores adversários e não se refugia atrás dos pés de microfone ou debaixo das batinas directivas. Uma personalidade rara no meio.
E, por isso, hoje os benfiquistas orgulham-se do seu treinador popular e do jogo ambicioso e ofensivo que promove a cada semana. Até surpreende que nem as pastilhas elásticas, nem as cabeleiras fartas, nem a pronúncia saloia tenham despertado os gurus da publicidade associada à maior marca nacional, como há 30 anos a horrível Macieira se soube vender através do panamá de Eriksson.
Jesus construiu em quatro anos o mais valioso dos patrimónios pessoais, uma marca que perdurará, talvez só comparável a um Pedroto ou a um Artur Jorge.
Em tempo de assédio sem fronteiras, pode imaginar-se que vai chegar o momento em que seja tentado por algum convite de campeonatos mais fortes. Se nem treinadores comodamente sentados em cadeiras de sonho foram capazes de resistir, o que faria Jesus perante o desafio de uma carreira internacional? Maduro, inteligente e com perspectiva devia preferir continuar a desenvolver a sua figura à dimensão do universo encarnado e acabar por tornar-se no maior treinador da história do clube. Místico agora, mítico na história."
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