"Falando, ainda assim pouco, Scolari disse, agora, muito, ao contrário de outros tempos, em que falava muito e dizia pouco...
Foi uma semana cheia de factos. De repente, e com alguma surpresa, o impávido e sereno Leonardo Jardim deixou de ser treinador do revolucionário SC Braga - quando Jardim parecia um treinador mesmo à medida deste SC Braga, discreto, trabalhador, sem qualquer assombro no discurso... -, e, também subitamente, o antigo seleccionador Luiz Filipe Scolari, também com alguma surpresa, voltou a desenterrar o famoso caso Baía, para afinal confirmar o que muitos já suspeitavam às escondidas: disse Scolari numa entrevista à RTP que deixou de lado a ideia de eventualmente convocar Vítor Baía porque um dia alguns dos próprios responsáveis do FC Porto (nomeadamente, e cito Scolari, «o presidente»), lhe fizeram saber que Baía tinha os dias contados no clube e que estava em conflito com o treinador e com os dirigentes. Deixou Scolari ainda no ar a ideia (menos concretizada) de que também alguns responsáveis da própria Federação lhe segredaram que a presença de Baía na equipa nacional não seria assim muito aconselhável dada a sua relação «de balneáiro», como referiu o treinador brasileiro.
Um espanto de revelações, que ou muito me engano ou já não surpreendem sequer o visado Vítor Baía, provavelmente cansado de saber que, mais coisa menos coisa, a decisão de não se ver chamado à Selecção estava longe de pertencer apenas ao domínio de Scolari. Ou seja: estava na cara que não poderia ter sido o treinador brasileiro a acordar, um dia, com os pés de fora e a decidir, por dá cá aquela palha, que Baía passaria, a partir dali, a excluído da equipa das quinas.
Com o Europeu à porta e uma tranquila Selecção Nacional em estágio - já sem o controverso Bosingwa ou o impulsivo Ricardo Carvalho -, a verdade é que não se esperava nada uma semana tão agitada como a que temos vindo a viver.
Para agravar o clima já de si insuportável pelos acontecimentos com a União de Leiria e os despiques entre a Liga dos mais pequenos e a Federação dos mais grandes, a Justiça voltou a abalar o futebol nacional com o anúncio do agravamento da pena de prisão aplicada ao presidente da Académica. Ainda mal refeito da festa de vencedor da Taça de Portugal, José Eduardo Simões é acusado dos crimes que, infelizmente, mais têm afectado a sociedade portuguesa nos últimos 20 anos: corrupção e abuso de poder.
Abuso de poder é, aliás, o que não tem faltado na área do futebol profissional neste pequeno país à beira-mar plantado. O que Luiz Felipe Scolari veio revelar pela primeira vez em público - depois de o ter contado tantas vezes em privado... -, referindo-se até a alegadas pressões do FC Porto em matérias da Selecção Nacional, não foi mais do que nova denúncia do abuso de poder, ou de tentativa de abuso de poder, muito usado entre nós. Tão lamentável.
No fundo, nada que não se passe noutros países, de que a Itália é exemplo flagrante desde que nos anos 80 começaram a explodir no futebol italiano casos de resultados combinados, apostas viciadas, corrupção e o tal abuso de poder, que já levaram ao banco dos réus e até à prisão alguns jogadores famosos, clubes poderosos e dirigentes ambiciosos.
Um filme que não deixaria de ter, certamente, alguns episódios portugueses, caso tivesse o mesmo efeito no nosso país a investigação que as autoridades italianas levaram a cabo no caso que ficou conhecido como 'Calciocaos', cujas escutas telefónicas, por exemplo, estampadas nas páginas da mais prestigiada imprensa transalpina, muito ajudaram, por exemplo, a condenar (na Justiça mas também na opinião pública) o infame e abusivo comportamento de um homem como Luciano Moggi, ao tempo alto responsável da Juventus, que sempre fez do futebol fonte de uma incalculável riqueza financeira e de um poder que julgou inabalável, como todos os homens cujo poder é apenas garantido pelo abuso desse poder, pelo dinheiro fácil, pela corrupção ou pelo jogo das influências que esse poder exerce.
Falando, ainda assim, muito pouco Scolari disse agora, afinal, muito, ao contrário do que compreensivelmente fez nos cinco anos e meio que viveu em Portugal, em que falou muito e disse, quase sempre, muito pouco.
PS: Muito estranha, realmente, a ruptura de Leonardo Jardim com o presidente do SC Braga, para quem julgava (como eu) que estava tudo na paz do Senhor. Será que vai Jardim substituir Vítor Pereira no FC Porto?, é a pergunta que aqui e ali se vai ouvindo. Bom, se Vítor pereira vier mesmo a deixar os portistas, o que continua longe de ser líquido, apostaria mais no regresso de Villas Boas. Apostaria, apostaria...
(...)
João Bonzinho, in A Bola
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