"São 36 equipas profissionais no futebol português, atendo-nos, claro, ao conceito de competição organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional e ao cumprimento das premissas que legitimem a respetiva inscrição.
Portugal é um país periférico na Europa (também no futebol), e isso não tem nada a ver com a produção e exportação de talentos, sejam jogadores, técnicos ou até dirigentes.
É periférico também geograficamente, mas sobretudo porque tem apenas dez milhões de habitantes, entre a zona continental e as duas regiões autónomas, é de dimensão muito contida e com um dos níveis de vida e rendimento mais baixos da chamada Europa Ocidental.
Este número (36 equipas para duas divisões) espanta pelo excesso, mesmo sabendo-se que o futebol é uma indústria pujante e catalisadora de meios, recursos e investimentos aproveitados, muitas vezes, por quem nada tem a ver com ela para se projetar pessoal e socialmente e para encontrar novos caminhos de negócio e lucro.
Sejamos claros: 36 equipas é uma loucura para um pequeno país como Portugal. Não há outra forma de o dizer, e esse facto tem, de quando em vez, sido comprovado da pior forma, com brutais desequilíbrios orçamentais e profundas crateras abertas por gestão danosa (amadora ou não, mas definidora de uma falta de sensatez notável, e penalizando emblemas históricos. Os casos do Belenenses (embora a divisão entre clube e SAD tenha, felizmente, penalizado mais esta do que aquele…), do Vitória Futebol Clube, do Vilafranquense, do Boavista, são apenas os mais mediáticos de queda e quebra por força da incapacidade gestionária e ausência de estruturas basilares para o ataque ao verdadeiro profissionalismo.
Militar numa liga profissional de futebol suscita a obrigatoriedade de recursos de médio e longo prazo, seja assentes na capacidade formativa e subsequente venda de ativos, seja na obrigatoriedade de encontrar caminhos para receitas estáveis e para um quadro financeiro consistente.
A competitividade desportiva e a consequente geração de um produto com verdadeiro interesse e alcance não se coaduna com arrivismos ou oportunismos de ocasião, normalmente alicerçados em acordos de duvidosa estirpe e origem, e promessas que roçam o ridículo, de tão nitidamente inexequíveis à partida.
Por um lado, a sustentabilidade de cada clube ou sociedade desportiva tem de ser verificada e ratificada, um horizonte de rigor e de verdade que, muitas vezes, é negligenciado.
Por outro, compete aos próprios clubes, imagens de marca do futebol nacional, a definição do que será, para eles, alta competição.
Há várias ideias lançadas à mesa de discussão ao longo do tempo.
Ideias que resultam da inadequação de um calendário sobrelotado, e que resumiria em algumas linhas, apenas para memória futura, porque creio que este é um assunto ao qual, mais cedo ou mais tarde, iremos inevitavelmente regressar…
— A diminuição de 18 para 16 (ou para 14…) equipas profissionais em cada uma das provas de regularidade organizadas pela Liga Portugal, o que resultaria num total de 32 ou 28 equipas. Menos emblemas com necessidade de estruturar financeiramente o seu projeto, maior e melhor localização dos apoios e dos investimentos por parte de médios e grandes parceiros, que assim conseguiriam públicos-alvo bem mais definidos e focalizados.
— A abolição da Taça da Liga. Disputá-la nos moldes atuais é um verdadeiro frete para os emblemas envolvidos, é redutora e mentirosa em relação ao universo da Liga Portugal e dos seus integrantes, e não aproveita a ninguém. Não há campeões de inverno. Há um campeão, apurado em maio, e, por melhor que seja o marketing associado à pobre competição, ela não passa disso mesmo: um torneio colateral, insosso e sem horizontes.
— Um acordo urgente, envolvendo todos os interessados, sobre a necessária centralização dos direitos televisivos: modelo a seguir, distribuição de proveitos, enquadramento e horizonte mediático, condições de transmissão.
— Caderno de obrigações financeiras de cada clube ou SAD com a garantia antecipada de obtenção de verbas para total financiamento de cada época desportiva. Ainda que a Liga 3 seja uma antecâmara do profissionalismo total exigido para a integração nas competições da Liga Portugal (foi, de resto, essa, uma das premissas que presidiu à sua criação e esteve na génese do seu modelo competitivo), há clubes e SAD envolvidos nas duas provas principais com evidentes dificuldades.
- Por fim, last but not least, uma reformulação do modelo competitivo das ligas profissionais, tomando como exemplo as ligas belga ou suíça, igualmente países periféricos. Mais jogos entre grandes equipas, maior equilíbrio e imprevisibilidade, eventual disputa a três voltas ou fases derradeiras com sistema de play-off aumentado para despromoção e promoção muito ajudariam à criação de emoção e receitas extraordinárias, por via da bilheteira e da presença de público nos estádios, condição essencial para o sucesso de qualquer competição.
Ficam as ideias, que aprofundarei daqui a algum tempo, na certeza de que, enquanto pensarmos que a liga portuguesa se pode juntar, em capacidade económica e desportiva, às competições dos Big Five, demoraremos ainda mais a fazer um diagnóstico profundo e a tomar medidas efetivamente necessárias para, à dimensão portuguesa, tornar o jogo mais atraente e mais próximo do adepto.
Cartão branco
João Pinheiro, depois de ter estado no Mundial de sub-17 da Indonésia, de ter sido 4.º árbitro da final da UEFA Champions League e de ter dirigido a Supertaça Europeia, está no Chile para o Mundial sub-20. Tem excelentes hipóteses de chegar muito longe na competição sul-americana. António Nobre e Luís Godinho vão ter, esta temporada, abertura de portas nas ligas Europa e Conferência, sendo lugares-tenente de Pinheiro em lugares também de destaque nas competições internacionais. Tiago Martins é dos mais requisitados, valorosos e experientes videoárbitros no seio da UEFA, com recorrentes chamadas a jogos de grande responsabilidade. Catarina Campos está na calha para uma presença na fase final do Mundial do Brasil, em 2027. São factos a nível internacional, que comprovam bem a qualidade da arbitragem portuguesa de futebol.
Cartão vermelho
A FIFA e a UEFA excluem ou não Israel das suas competições? Seguem ou não o mesmo critério utilizado para não permitir a presença das seleções e das equipas da Rússia nos torneios continentais e mundiais? É que, das duas, uma: ou se convenciona que o futebol é agregador e não se podem prejudicar sucessivas gerações de jovens atletas com uma exclusão (e se reintegra a Rússia), ou se define que, pela sua transversalidade e universalidade, o futebol deve ser exemplo de ação geopolítica, e se exclui Israel. Assim, sem ser carne nem peixe, é que não."

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