"«A arbitragem do Brasil é a pior do mundo», sentenciou o antigo internacional brasileiro Michel Bastos, na CNN Brasil, após os jogos da última jornada do Brasileirão. «Juizada ruim!», desabafou Neymar nas redes sociais, logo a seguir.
Não foram só os jogadores retirados ou em atividade: a própria classe revoltou-se. «Chegamos ao fundo do poço», opinou o ex-árbitro Carlos Simon, «o sistema faliu», disse Arnaldo Cezar Coelho, outro juiz reformado, «para as últimas 10 jornadas a única solução é a CBF contratar 10 árbitros estrangeiros», propôs o comentador de arbitragem Sálvio Spínola.
A imprensa, claro, não foi meiga: para Carlos Eduardo Mansur, colunista de O Globo, «os árbitros têm um efeito devastador no futebol brasileiro». E o GE pediu aos leitores para elegerem o mais absurdo erro de arbitragem até agora, entre 10 lances, dos quais quatro ocorreram no especialmente desastrado fim de semana passado, incluindo um penálti do tamanho da Avenida Paulista que o árbitro do clássico entre São Paulo e Palmeiras não considerou.
Esse lance motivou a revolta não só do próprio São Paulo, diretamente prejudicado, como também do Flamengo, por mexer com a liderança do Brasileirão. Em contra-ataque, o Palmeiras acusou então os rivais de «pressão descomunal». Para estancar o tumulto, a CBF decidiu colocar esse e outro juiz na geladeira, o equivalente à jarra portuguesa.
Estas coisas só existem no Brasil, não é? Não, não é. Experimente fazer uma busca pela palavra arbitragem na edição online de A BOLA e verá André Villas-Boas a arrasá-la, Rui Costa a dizer que o Sporting é «sistematicamente beneficiado» e Frederico Varandas a enumerar «casos a favor do Benfica» só na semana passada.
Leia então jornais italianos e verá críticas em série, tão violentas quanto aquelas, aos juízes. E não precisa saber turco para ver imagens de árbitros agredidos na liga local.
Em França e nos Países Baixos foram batidos recordes de abusos verbais e físicos contra os homens do apito.
Até na impecável Premier League os ex-internacionais Mark Clattenburg e Howard Webb andam a lavar roupa suja em público.
Mais: na gélida Noruega, conta a ESPN, foram atirados croissants e rolhas de champanhe à cabeça dos árbitros e meia claque do Lillestrom usa t-shirts a dizer «fuck the VAR».
Ou seja, do efervescente Brasil à atinadinha Noruega, os adeptos, os jogadores e a imprensa tendem a ser muito mais críticos das arbitragens do próprio país porque estão muito mais ligados emocionalmente aos clubes, aos jogos, aos resultados dos seus campeonatos.
Não, Michel Bastos, provavelmente a arbitragem brasileira não é a pior do mundo — é mais ou menos como as outras todas."

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