"O Benfica não podia contratar um treinador por um mês, nem as opções na estrutura interna garantiriam a paz necessária. Até poderiam tornar-se num risco maior, pois o Benfica perdeu um treinador, perdeu um jogo e empatou outro, mas não hipotecou absolutamente nada da época
José Mourinho regressou ao Benfica e correspondeu a todas as expectativas que havia para este primeiro dia no Seixal. O Special One entrou emocionado, o sentimento pareceu genuíno e as primeiras palavras como treinador dos encarnados mostraram um homem em missão, apostado em unir.
Depois dos dois últimos resultados, os adeptos benfiquistas precisavam de alguém que os cuidasse, que lhes devolvesse algum do orgulho e honra. Ter um treinador do estatuto de José Mourinho a falar do Benfica como falou fez, certamente, bem ao ego do adepto encarnado. Nesse ponto, Mourinho continua a ser um mestre na sala de imprensa e o que aí vem será interessante de seguir.
O técnico sadino foi ainda respeitoso para com o antecessor Bruno Lage e concordo com a ideia que Mourinho passou sobre o contrato: houve ética. Ou melhor, houve, acima de tudo, respeito. Entre clube e treinador, mas também pelos outros candidatos.
O Benfica não podia contratar um treinador por um mês, nem as opções na estrutura interna garantiriam a paz necessária. Até poderiam tornar-se num risco maior, pois o Benfica perdeu um treinador, perdeu um jogo e empatou outro, mas não hipotecou absolutamente nada da época. Assim, tudo certo, Mourinho pode sair no final da época se o presidente eleito assim o quiser e o Benfica respeitou o estatuto do técnico, dando-lhe o mínimo exigível, que é um contrato até final da temporada. Já agora, o treinador, no que respeita às eleições, indicou que trabalha com a equipa de Rui Costa e trabalhará com a de outros, independentemente quem vença a 25 de outubro. «No dia seguinte às eleições, serei treinador do Benfica», disse.
Obviamente, José Mourinho iria ser questionado sobre as duas fases da carreira. E obviamente, iria defender o seu registo. Uma nota sobre isto: quando é que começou mesmo a segunda fase (que na minha perspetiva existe, mas não nos termos em que é colocada)? Pode não significar muito agora, mas ainda é o melhor treinador do Manchester United após Alex Ferguson.
O Special One afirmou que jogou duas finais europeias nos últimos cinco anos e ganhou uma delas. Portanto, a nível de conquistas, não foi assim há tanto tempo que deixou de ganhar e é preciso recordar que Mourinho passou por clubes de dimensão interna diferente daquela que o Benfica apresenta: nem o Tottenham, nem a Roma lutam pelo campeonato como luta o Benfica. O problema, portanto, foi o Fenerbahçe. «Um erro», disse Mourinho.
Outra dimensão, porém, é a do futebol apresentado. Essa sim é a principal diferença. A Europa e o mundo ficaram encantados com o seu FC Porto, os seus Chelseas (aqueles dois incríveis primeiros anos), o seu Inter de Milão – recorda-se demasiado a eliminatória com o Barcelona em comparação com o resto - e mesmo que o seu Real Madrid não jogasse como o rival catalão era de topo mundial, que lutou e bateu até uma das maiores equipas de toda a História do futebol. Esse futebol começou a desvanecer-se em Manchester e apesar de alguns resultados prolongou-se por Londres e Roma.
Há, portanto, dúvidas legítimas como algumas espelhadas no primeiro parágrafo deste texto, mas têm esperança os benfiquistas que aquele sentimento que pareceu genuíno de Mourinho lá no início da conferência traga com ele um futebol reinventado em comparação com os últimos clubes do José Mário mais famoso do país. Diz-me como perdes, dir-te-ei quem és. Uma ideia futebolística que Mourinho, à sua maneira, colocou em cima da mesa. O Benfica pode perder, mas tem de perder no limite. Isso, para mim, significa duas coisas: a entrega e o bom futebol jogado, superiorizando-se a adversários.
No fundo, no Benfica não basta morder, é preciso sorrir também."

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!