"ANTÓNIO FARIA IMPÔS UM
LONGO DOMÍNIO NUMA PROVA
EM QUE O TEMPO RARAMENTE
PERDOA QUEM O DESAFIA
O atletismo é a primeira modalidade
a ser praticada. Antes de começarmos a jogar qualquer outra,
teremos já corrido, saltado e lançado objetos uma numerosidade de
vezes. Mesmo sem termos perceção
disso, temos contacto com a base de
todos os desportos. Noutras modalidades, percebemos que a conjugação de
capacidades nos torna singulares. Com
os anos, apesar de essas capacidades
físicas diminuírem, o conhecimento do
jogo e a experiência adquirida fazem
com que se seja um elemento importante e possa assim prolongar a carreira.
Mas, no atletismo, as categorias incidem em apenas um aspeto físico: velocidade, força, resistência ou impulsão. Os
atletas potenciam essa capacidade e
apuram a técnica de cada movimento,
em que, por ser tão minucioso, cada
milímetro faz a diferença. São atletas
com tempo limitado e em que o tempo é
severo.
António Faria decidiu, ainda muito
novo, que o seu desporto de eleição seria
o atletismo. Extremamente rápido, foi natural
a escolha pelas distâncias de 100 m e 200 m,
seguindo assim os passos do seu ídolo,
Tomás Paquete. Aos 18 anos, ingressou no
Benfica e, três anos depois, estreou-se nas
competições seniores. Na sua época de
estreia, sagrou-se campeão nacional nos 100 m
e nos 200 m. No ano seguinte, repetiu o feito.
No entanto, a imprensa levantava dúvidas
de que se conseguisse manter nestas distâncias: “Os tempos que obteve estão entre os
nossos melhores nas respectivas distâncias,
mas a sensação que o atleta nos dá de ser
melhor na prova de 400 metros avoluma-se
a cada passo.” Empenhado em provar que era
um velocista puro, António Faria sagrou-se
crónico vencedor dessas provas no Campeonato Regional e no Nacional até ao
início da década seguinte.
O atleta não se destacava apenas
em Portugal, impondo a sua qualidade no panorama internacional,
após ter representado a seleção
nacional pela primeira vez no Portugal-Sul da França, em 1955. No
ano seguinte, o velocista assinalou
a presença no duelo ibérico de forma
retumbante, ao vencer nos 100 m
e nos 200 m, dando início a uma
“série de 12 vitórias que viria a obter
nestes encontros, facto que constitui
recorde”. A sua prestação foi de tal
forma meritória, que o Governo
espanhol o distinguiu com a Medalha
de Mérito Desportivo de Espanha.
Em 1963, terminou a carreira
ainda na plenitude das suas capacidades e com o recorde nos 100 m
e 4×100 m. Atleta fantástico, António
Faria ditou na pista, onde cada centésimo conta, onde a margem para
o erro é mínima e o corpo é levado ao
limite, uma das histórias mais marcantes do atletismo. Numa das categorias mais duras e exigentes, não só
provou que era um verdadeiro velocista como surpreendeu todos ao
impor um domínio raro, prolongado
e quase impossível de manter numa
disciplina em que as carreiras costumam ser
breves como o som do tiro de partida.
Enquanto muitos viam o auge escapar em
poucos anos, Faria resistiu. Na linha de partida, não corria apenas contra o tempo. Corria
contra a lógica. E triunfou.
Saiba mais sobre este brilhante atleta na
área 3 – Orgulho Eclético, do Museu Benfica
– Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica

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