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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Corrida contra o tempo


"ANTÓNIO FARIA IMPÔS UM LONGO DOMÍNIO NUMA PROVA EM QUE O TEMPO RARAMENTE PERDOA QUEM O DESAFIA

O atletismo é a primeira modalidade a ser praticada. Antes de começarmos a jogar qualquer outra, teremos já corrido, saltado e lançado objetos uma numerosidade de vezes. Mesmo sem termos perceção disso, temos contacto com a base de todos os desportos. Noutras modalidades, percebemos que a conjugação de capacidades nos torna singulares. Com os anos, apesar de essas capacidades físicas diminuírem, o conhecimento do jogo e a experiência adquirida fazem com que se seja um elemento importante e possa assim prolongar a carreira. Mas, no atletismo, as categorias incidem em apenas um aspeto físico: velocidade, força, resistência ou impulsão. Os atletas potenciam essa capacidade e apuram a técnica de cada movimento, em que, por ser tão minucioso, cada milímetro faz a diferença. São atletas com tempo limitado e em que o tempo é severo.
António Faria decidiu, ainda muito novo, que o seu desporto de eleição seria o atletismo. Extremamente rápido, foi natural a escolha pelas distâncias de 100 m e 200 m, seguindo assim os passos do seu ídolo, Tomás Paquete. Aos 18 anos, ingressou no Benfica e, três anos depois, estreou-se nas competições seniores. Na sua época de estreia, sagrou-se campeão nacional nos 100 m e nos 200 m. No ano seguinte, repetiu o feito.
No entanto, a imprensa levantava dúvidas de que se conseguisse manter nestas distâncias: “Os tempos que obteve estão entre os nossos melhores nas respectivas distâncias, mas a sensação que o atleta nos dá de ser melhor na prova de 400 metros avoluma-se a cada passo.” Empenhado em provar que era um velocista puro, António Faria sagrou-se crónico vencedor dessas provas no Campeonato Regional e no Nacional até ao início da década seguinte.
O atleta não se destacava apenas em Portugal, impondo a sua qualidade no panorama internacional, após ter representado a seleção nacional pela primeira vez no Portugal-Sul da França, em 1955. No ano seguinte, o velocista assinalou a presença no duelo ibérico de forma retumbante, ao vencer nos 100 m e nos 200 m, dando início a uma “série de 12 vitórias que viria a obter nestes encontros, facto que constitui recorde”. A sua prestação foi de tal forma meritória, que o Governo espanhol o distinguiu com a Medalha de Mérito Desportivo de Espanha.
Em 1963, terminou a carreira ainda na plenitude das suas capacidades e com o recorde nos 100 m e 4×100 m. Atleta fantástico, António Faria ditou na pista, onde cada centésimo conta, onde a margem para o erro é mínima e o corpo é levado ao limite, uma das histórias mais marcantes do atletismo. Numa das categorias mais duras e exigentes, não só provou que era um verdadeiro velocista como surpreendeu todos ao impor um domínio raro, prolongado e quase impossível de manter numa disciplina em que as carreiras costumam ser breves como o som do tiro de partida. Enquanto muitos viam o auge escapar em poucos anos, Faria resistiu. Na linha de partida, não corria apenas contra o tempo. Corria contra a lógica. E triunfou.
Saiba mais sobre este brilhante atleta na área 3 – Orgulho Eclético, do Museu Benfica – Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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