Concretos e abstratos

"1. São inesquecíveis os “acontecimentos” dos minutos derradeiros da final da Taça de Portugal, no Jamor, no dia 25 de maio, já lá vão mais de três meses. A decisão de um troféu oficial, o segundo em importância no mapa das competições em Portugal, foi deliberadamente marcada por decisões “inesquecíveis” dos videoárbitros e pela complacência do árbitro em campo. E, assim, o Benfica foi espoliado de um título oficial.

2. Consequências práticas da tarde negra da arbitragem nacional? Nenhumas. Todos os árbitros que foram protagonistas de semelhante vergonha continuam em ação. Até ao momento, a única entidade penalizada pelos desvarios dos videoárbitros e do árbitro foi a entidade Sport Lisboa e Benfica.

3. Veio agora o Conselho de Disciplina da FPF informar que o Benfica foi multado em 816 euros. Porquê? Por ter afirmado, em comunicado emitido em 12 de julho, evidências como estas sobre os acontecimentos de 25 de maio: “Estes factos não podem ser relativizados, ignorados ou branqueados. O Sport Lisboa e Benfica exige a suspensão imediata dos quadros da arbitragem de todos os elementos envolvidos neste colossal erro de avaliação e julgamento.”

4. E ainda por ter sugerido, no mesmo comunicado, evidências como estas: “Quem demonstra tamanha incompetência e falta de critério não pode continuar a intervir em jogos profissionais. A sua continuidade em funções seria um insulto ao futebol português e à sua credibilidade.” Entendeu também o Conselho de Disciplina da FPF que o comunicado do Benfica ofendeu “a honra, a consideração e a dignidade” dos “concretos agentes da videoarbitragem visados” colocando em causa as respetivas “imparcialidade, probidade, honestidade e integridade profissional”.

5. A conclusão a que se chega perante o rol de ofensas que, supõe-se, beliscaram os “concretos agentes da videoarbitragem” – se não fossem concretos, seriam abstratos? –, e perante a multa aplicada ao Benfica, é que o Conselho de Disciplina vende barato a honra, a consideração, a dignidade, a imparcialidade, a probidade, a honestidade e a integridade profissional dos tais “agentes concretos”.

6. Feitas as contas, a multa de 816 euros a dividir por estas 7 virtudes tão maltratadas – honra, consideração, dignidade, imparcialidade, probidade, honestidade e integridade profissional – resulta numa multa de 116 euros por virtude, o que é miserável.

7. O Benfica está na Liga dos Campeões, que era o que se queria. Queria-se muito, aliás. Despachado o Nice, despachado o Fenerbahçe, agora é tempo de ansiar por um sorteio amável [n.d.r. esta crónica foi escrita antes de o resultado do mesmo ser conhecido] dentro das amabilidades possíveis nesta fase inicial da maior competição de clubes do mundo. Carrega, Benfica!"

Leonor Pinhão, in O Benfica