"Estava muito complicado o Benfica chegar ao golo, mas o remate de Sudakov, aos 86', aliviou a Luz, parecendo mostrar que a estrelinha estava com o treinador. Porém, cinco minutos depois, André Luiz mostrou a Mou o outro lado das estrelas
Mourinho foi tocado pelas estrelas. Quem o disse, na véspera do jogo, foi Sylaidopoulos, treinador do Rio Ave. E a sequência de toques das mais variadas estrelas sobre o técnico do Benfica, sobretudo do Sol, a estrela central do sistema solar, parecia destinada a continuar.
A águia de Mou, depois de um primeiro tempo muito pálido, arrancava uma segunda parte bem menos cinzenta. Lutou, correu, dominou e, já perto do fim, marcou por Sudakov. Era, finalmente, o golo da tranquilidade. O golo que confirmava que o setubalense continuava a ser tocado pelas estrelas mais resplandecentes.
Porém, todos os que são bafejados pelas estrelas estão também sujeitos às suas sombras. E o monumental remate de André Luiz, que deu o empate ao Rio Ave aos 90+1, colocou um véu sobre a figura de José Mourinho. Talvez o Benfica não merecesse perder. Aliás, no chamado ‘jogo jogado’, os encarnados mereciam os três pontos. Mas o futebol, frio e implacável, é simples: vence quem marca mais, como lembraria La Palisse. Assim, o Rio Ave regressa a casa com um justo ponto no bolso.
O início foi insólito, até antes do apito inicial: em campo, 22 jogadores e apenas um português, António Silva, acompanhados por mais 14 nacionalidades: ucranianos, bósnios, argentinos, suecos, noruegueses, colombianos, croatas, polacos, ingleses, checos, gregos, costa-riquenhos, alemães e espanhóis. Um retrato do futebol global.
Mourinho repetiu o onze que vencera o Aves SAD (3-0), enquanto Sylaidopoulos trocou cinco jogadores em relação ao jogo com o FC Porto (0-3), incluindo a estrela Clayton Silva, que começara a temporada com cinco golos em cinco jogos, mas chegava a esta partida em branco nos últimos dois.
Sem extremos, o Benfica sentiu enormes dificuldades na primeira parte para se aproximar da baliza vilacondense. O Rio Ave defendia num sólido 5x4x1, fechando os espaços de entrada aos médios encarnados. Sudakov tentava fugir ao ‘4x4x2 flat’, como Mourinho descreveu, recuando para procurar bola, mas invariavelmente tinha marcação cerrada. O cenário lembrava os primeiros 45 minutos frente ao Aves: sem ocasiões claras, sem pressão real sobre a defesa contrária e com muita posse estéril no meio-campo.
A equipa de Sylaidopoulos defendia com segurança e, quando tinha bola, desdobrava-se rápido, chegando perto de Trubin. O primeiro sinal de perigo até foi do Rio Ave: remate de Spikic, desviado por Aursnes, acabou fraco nas mãos do guarda-redes. O Benfica respondeu com um remate de Ríos muito por cima e, pouco depois, Pavlidis viu Petrasso cortar um lance promissor. Já perto do intervalo, após longa troca de passes, Aursnes atirou cruzado e ao lado.
Mourinho e Sylaidopoulos mantiveram os onzes após o descanso. O jogo continuava preso, previsível, até que, de repente, alguns jogadores do Benfica — António Silva, Pavlidis, Sudakov — pareciam também tocados pelas estrelas, iniciando uma mini-avalancha ofensiva. António Silva cruzou para Pavlidis, mas Miszta defendeu seguro.
O relógio avançava e o golo não surgia. Mourinho parecia prestes a lançar Lukebakio, mas foi o técnico do Rio Ave a mexer primeiro: Clayton e André Luiz entraram aos 60’. Logo depois, Pavlidis (ou António Silva) marcou, a Luz festejou, mas o VAR anulou por pisadela de Otamendi sobre Vroussay.
Mourinho arriscou então: Ivanovic e Dahl deram lugar a Lukebakio e Schjelderup. Aursnes recuou para lateral-esquerdo, Schjelderup ocupou a esquerda e Lukebakio a direita. O belga teve grande oportunidade, mas o chapéu saiu curto. O Benfica cresceu. Ríos, servido por Lukebakio, quase marcou. A pressão aumentava, mas o Rio Ave não deixava de espreitar o contra-ataque. Até que, finalmente, Lukebakio cruzou atrasado, Sudakov rematou, a bola desviou em Petrasso e entrou: 1-0.
Mourinho decidiu reforçar o meio-campo com Barreiro para segurar a vantagem mínima. Mas aos 90+1, André Luiz fugiu pela esquerda e, rodeado de defesas encarnados, decidiu-se por um pontapé colossal: a bola só parou no fundo da baliza de Trubin:1-1.
Ainda houve tempo para Mourinho tentar o golpe de asa, lançando Henrique Araújo para o lugar de Ríos, mas já nada mudou. Na estreia de Mourinho na Luz, nem as estrelas nem as suas sombras evitaram o empate."

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