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quarta-feira, 23 de julho de 2025

O mito


"Não será uma ideia consensual entre o universo benfiquista, mas confesso que desconfio bastante do mito do futebol ofensivo, do mito do futebol bonito. Quando vejo outras ligas, quero espectáculo.
Quando vejo o Benfica, quero apenas ganhar. E ao que me parece, a forma mais segura (e mais barata) de o conseguir passa, antes de mais, por solidez defensiva e robustez do meio-campo – tendo como prioridade não permitir ao adversário criar ocasiões de golo. Na esmagadora maioria dos jogos de um campeonato como o nosso, não sofrendo, acabaríamos por marcar pelo menos uma vez. Marcando uma vez, estava ganho.
Deixando de lado factores subterrâneos, foi também uma estratégia desportiva versão “tanque de guerra” que ajudou o FC Porto a conquistar vinte campeonatos em trinta anos; e que Ruben Amorim transportou para o Sporting, com os resultados que conhecemos.
Há quem diga que a matriz identitária do Benfica não é essa. Falso! O Benfica nasceu, cresceu e chegou ao topo da Europa, ainda antes de Eusébio, com equipas de combate e de suor, quando não de sangue e de lágrimas. O futebol requintado era então o dos “Violinos”. Depois, é verdade, houve Eusébio, e com ele uma equipa dominadora. Mas nos últimos cinquenta anos o nosso clube perdeu mais do que ganhou – demasiadas vezes por tentar reproduzir o paradigma de um tempo que já não existe, tornando-se permeável ao querer encantar a bancada com veludo. E quando no fim corre mal, até os admiradores de ópera, mesmo eles, ficam desiludidos. A culpa é de todos, e começa desde logo nos adeptos. Quantos estariam dispostos a ir à Luz ver o Benfica ganhar 1-0 ao Arouca ou ao Rio Ave? Quantos aceitariam jogadores de músculo, gladiadores sem grandes habilidades mas capazes de dominar o espaço? Com a janela de mercado escancarada, fica a reflexão."

Luís Fialho, in O Benfica

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