"Acabou no passado domingo o maior torneio de ténis realizado em Portugal. Nuno Borges, que vive anos felizes e de evolução na competição após a sua formação nos Estados Unidos, ficou-se pelos quartos de final, enquanto na variante de pares Francisco Cabral perdeu na final.
Ainda continuam a ser os êxitos de João Sousa considerados o maior marco do ténis e da história da modalidade em Portugal. Atualmente existem várias promessas treinadas no Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis, como Jaime Faria e Henrique Rocha e as irmãs Francisca e Matilde, que tentam colocar novamente Portugal no top-100 do ténis, algo que, no feminino, apenas foi conseguido por Michelle Larcher de Brito.
Para quem segue esta modalidade, sabe o quanto temos melhorado gradualmente.
Mas podemos (e devemos) sonhar com mais…
Há mais de 25 anos, a paixão pelo ténis de João Lagos e da sua equipa converteu uma utopia em realidade, numa Masters Cup que ainda perdura na memória coletiva pelo estrondoso sucesso organizativo, aliado ao memorável triunfo de Gustavo Kuerten, o famoso Guga. Naquela altura não havia sequer um jogador português no top-100. Neste século, passámos a ser presença habitual.
Mas podemos (e devemos) sonhar com mais...
O caso de João Lagos é o que mais se assemelha ao saudoso Sr. Aurélio Pereira no ténis, começou bem antes do Masters Cup. Foi um visionário de como devia ser a ascensão da modalidade. Os encontros no Dramático de Cascais nos anos 80 com os melhores do mundo como Ivan Lendl e John McEnroe são exemplo disso, contam quem segue de perto o desporto.
Tivemos também João Cunha Silva a chegar a n.º 1 do Mundo de juniores. O agora responsável pelo Clube Escola de Ténis de Oeiras não conseguiu dar sequência a tão pesado número no escalão sénior, mas foi dos que mais apaixonou os espectadores com as suas pancadas do fundo do court.
Nesta distância temporal, talvez esteja a faltar a Portugal mais condições de treino e um departamento de recrutamento a funcionar de forma exemplar, algo que o Sr. Aurélio Pereira, romântico de desporto e do amor à camisola, conseguiu fazer sem igual.
Apesar de poucas possibilidades que nos colocam num futuro top-5 ou 10 mundial, temos de ir à luta. Começar cedo. Novak Djokovic mostrou isso. Vai indicando, ano após ano, que o caminho da vitória é lutar com o que temos. Roger Federer mostrou que até mesmo a perder é possível ser um atleta a roçar a perfeição. Para muitos, o talento do suíço fez a diferença ao longo da carreira, mas também há quem prefira a garra e qualidade técnica do espanhol Rafael Nadal.
Uma coisa é certa, no Mundo existem cerca de 87 milhões de praticantes de ténis, sendo que apenas 14 países concentram 93,3% dos jogadores do planeta. Os Estados Unidos da América têm mais do dobro dos habitantes de Portugal, a praticar a modalidade. Ao passo que a Espanha tem apenas três milhões de praticantes. Os dados são da ITF (Federação Internacional de Ténis), em relatório de 2021 chamado ITF Global Tennis Report. No entanto, já demonstrámos em outras modalidades que em quantidade podemos não ser muitos, mas existe muita qualidade.
Voltando ao paralelismo com um exemplo de sucesso, o Sr. Aurélio Pereira descobriu (entre muitos outros) Cristiano Ronaldo. O melhor jogador do Mundo em futebol confirmou há pouco tempo que vai apostar no ténis, com a aquisição do Lisboa Racket Centre, em Lisboa. O craque português adquiriu a totalidade deste estabelecimento, mas mais do que isso faz-nos sonhar num futuro ainda mais promissor. Será que vamos ter uma aposta de CR7 no ténis português? Ou a sua aposta foi apenas no recinto de prática desportiva?
É importante relembrar que o ténis é um dos desportos mais populares no mundo. É um desporto muito versátil que permite que indivíduos de todas as idades joguem com os seus pares. O ténis requer uma variedade de atributos físicos, incluindo velocidade, força, endurance, equilíbrio e competências de jogo específicas. Durante o tempo de jogo, o tenista está sujeito à execução de esforços intermitentes de todo o corpo, entre sessões curtas de exercícios de alta intensidade (2 a 10 segundos) e sessões curtas de recuperação (10 a 20 segundos), interrompidas por vários períodos de descanso de longa duração (60 a 90 segundos).
Depois de realizar o serviço com uma velocidade média de perto de 200km/h, um tenista corre em média 3 metros por batimento (momento do impacto com a bola) e com mudanças de direção na tentativa de concretizar o ponto, acertando a bola em média 4 a 5 vezes e completando 1300 metros a 3600 metros por hora de jogo, dependendo do nível do jogador e da superfície da quadra (lenta ou rápida).
Querem melhor ingrediente para um bom adepto português: ver um atleta do seu país a lutar com técnica e intensidade por um objetivo nunca antes alcançado?
Um Grand Slam, por exemplo. Seria mágico.
A idade em que se pode começar a jogar ténis depende da capacidade motora e do interesse, mas crianças entre os 3 e 5 anos podem participar de atividades lúdicas que desenvolvem habilidades motoras básicas. O futuro começa aí. O ténis tem de fazer parte do dia a dia. Deve-se começar desde cedo com a implementação da modalidade. Crianças de 6 a 7 anos podem começar a aprender ténis se tiverem interesse e capacidade motora. Sem gostar, nada faz sentido. Com gosto, será para a vida toda. Foi assim que aconteceu com o novo ídolo da modalidade, o nosso vizinho Carlitos Alcaraz. Ele é a tradução de tudo o que queremos. É alegre, lutador, tecnicista. Já ganhou em todo o tipo de pisos. Já foi número 1, mas todos preveem que lá volte. E foi assim que tudo começou, por jogar diariamente em pequeno.
Jogar ténis desafia diariamente os atletas e coloca-os frente a frente a uma possibilidade de lutar até ao fim para ganhar. Ficar, tentar e ter a dignidade de lutar mesmo sem grandes chances no papel. Neste momento, Portugal está nesse patamar. Mas é possível."

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