"Não haverá outra opção que não passe por sujeitar o nosso jovem líder a uma campanha de publicidade negativa. Agradeçam-me depois
Há um par de semanas foi revelado que Fabrizio Romano, alegado jornalista italiano com dezenas de milhões de seguidores nas redes sociais, tem vindo, ao longo dos anos, a ser pago para divulgar determinados jogadores de determinados agentes, um pouco como um influenciador com bom cabelo divulga champôs ou uma especialista em lifestyle divulga um café onde se servem boas torradas com ovo e abacate.
Foi mais uma vitória para o cinismo, qualidade há muito sub-apreciada. Há alguns anos que suspeitava, por isso foi com gosto que vi cair por terra o mito do jornalista especializado em prospecção que conhece todos e sabe tudo antes de qualquer outro. Afinal a especialização de Fabrizio Romano é o entretenimento. Nisso ele é muito bom.
Para muitos adeptos, esta desilusão pareceu um pouco como se alguém descobrisse aos 30 anos que o Pai Natal não existe. Para os mais avisados, a dúvida ganha força. Se o maior inflacionador do futebol mundial faz isto, então é porque abaixo dele existirá uma rede subterrânea que alimenta muito mais gente. Sinto uma genuína curiosidade em saber quantas mais destas contas, das pequenas às grandes, não são mais do que colaboradores de um negócio.
Posso partilhar um exemplo muito recente: nem um par de horas tinha passado sobre o jogo da equipa B do Benfica contra o Santa Clara, da Liga 2, e já circulava um vídeo com os melhores momentos de Prestianni, reforço argentino sub-17 chegado em janeiro e que, tanto quanto sei, não está no mercado. Seria estranho se assim fosse.
Por muito que torça por ele, não deixa de ter piada verificar que 9 em cada 10 ações realizadas pelo jovem argentino são passes para o lado, executados com algum sentido estético e não muito mais. Não me espanta que um jovem de 17 anos continue à procura do seu espaço, assim como nada no referido vídeo invalida que Prestianni possa vir a revelar-se um achado futebolístico. Mas, uma peça de duração superior a 2 minutos, claramente editada por alguém competente e ágil, não será pura carolice. Aos poucos, vídeo a vídeo, vídeos como este tornam-se peças altamente sugestivas acerca do Benfica 2024/2025. Dão para tudo. Ora vejam: 1. «Porque é que alguém divulgaria as exibições de um jogador que acabou de chegar?»; 2. «Porque é que este miúdo não tem mais minutos na equipa principal?»; 3. «Pensei que íamos contratar alguém pronto para produzir impacto imediato e não mais um projeto de jogador.»
Serve tudo isto para pedir à comunidade benfiquista que seja capaz de provocar uma tendência inversa nas redes sociais relativamente ao nosso prodígio João Neves. Não tenho nada contra o miúdo, mas as notícias sucedem-se ao ritmo das boas exibições. Desta vez um jornal inglês explica que o Manchester United, não satisfeito em ter emperrado a carreira de inúmeros treinadores e jogadores, se prepara agora para fazer uma daquelas propostas que começa em 100 milhões e acaba em «não podíamos cortar as pernas ao rapaz». Ou seja, começo mesmo a temer o pior. Socorro-me da velha máxima: tempos desesperados exigem medidas desesperadas. Cá vai disto.
Não fui eu que inventei este comportamento que vou agora sugerir, foram mesmo as tais pessoas que promovem champôs e torradas com abacate no Instagram e no TikTok. Chama-se deinfluencing, ou, em português, desinfluenciar (não soa tão bem). Consiste em influenciar pela negativa, desaconselhando um produto ou um serviço.
Ou seja, em vez de um Fabrizio Romano a desdobrar-se em elogios ao jogador, arrastando consigo multidões que querem acreditar em tudo, faríamos o seguinte: após cada jogo do Benfica e de João Neves, dezenas ou centenas de contas passam a aparecer nas redes para publicar diferentes respostas contendo críticas negativas à exibição do jogador. Não precisam de ser demasiado duras. Devem ser suficientemente construtivas para não afetar o jogador. Afinal de contas, queremos que ele continue a encher o campo. Mas só isso não chega. Para além dos comentários menos positivos, vamos mobilizar um pequeno exército de editores de vídeo especializados em insuflar jogadores no pós-jogo. Desta vez farão o contrário. Cada editor de vídeo irá justamente escolher os piores momentos de João Neves no jogo mais recente e publicar, por exemplo, uma compilação com o título Melhores momentos de João Neves contra o Estoril.
O resultado esperado da estratégia será do agrado de todos os Benfiquistas: garantir João Neves no Benfica por mais algum tempo, tanto quanto ele considerar adequado. Enquanto ele sentir o clube como temos visto em cada jogo, enquanto se disponibilizar para ir à flash interview quando mais ninguém quer, enquanto demonstrar a qualidade superlativa com e sem bola a que já nos habituou, bom, se tudo isto continuar a acontecer, não haverá outra opção que não passe por sujeitar o nosso jovem líder a uma campanha de publicidade negativa. Agradeçam-me depois.
P. S. Sei que já passaram alguns dias, mas a senioridade nem sempre é um posto e por isso queria deixar aqui uma observação. Depois de ver João Neves dar uma flash interview num dos dias mais complicados da sua vida, senti que esse momento confirmou tudo o que já sabíamos sobre ele. Não vejo nenhum motivo para não ser João Neves um dos capitães da equipa. Tem condições para isso, por isso fica a sugestão."
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