"Já nem sabia onde tinha guardado a chave desse baú, mas depois de a encontrar foi lá que arrumei a memória da pesada derrota no Porto. Ficou a fazer companhia a mais meia dúzia de recordações, que tanto devem ser enfrentadas com coragem como devem ser ultrapassada com maturidade. Olhei para aquele quadro, percebi o significado, e atirei-o lá para dentro. Foi a decisão mais adequada para que agora se pintem novas telas, bem mais bonitas. Sobretudo, sabendo que temos pincéis capazes de criar verdadeiras obras de arte.
A última jornada foi marcante, mas devo partilhar com o leitor que o resultado nem sequer foi o motivo pelo qual saí do Estádio do Dragão impressionado. Regressei a casa comovido pela paixão manifestada pelos benfiquistas, que também a mim me contagiaram, enquanto os adeptos adversários tentavam perceber o porquê de aquela bancada pintada de vermelho cantar ainda mais alto depois de sofrer o quinto golo. Olhares de estupefação denunciavam a confusão que tomava conta de toda aquele gente, incapaz de perceber que, acima de qualquer sentimento de raiva ou angústia, existe um muito mais potente que move cada vez mais corações desde 1904. Na verdade, era a mesma estupefação que denunciou o mesmo tipo de confusão na bancada benfiquista, quando por ali se percebeu, a meio da segunda parte, que no exterior havia fogo de artificio a levar os adeptos da casa a um delírio, digamos, inesperado, tendo em conta a distância para os dois primeiros lugares da tabela. Enquanto uns se movem pela paixão incondicional, outros têm a sua paixão condicionada por um ódio interminável. Felizmente, somos muito diferentes. Sou do Benfica, e isso me envaidece."
Pedro Soares, in O Benfica
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