"Bernardo Silva, e é provável que não seja uma novidade nem para si próprio, dificilmente ganhará uma Bola de Ouro ou um Best. Acontece-lhe o mesmo que a todos os atores secundários, por mais importantes que sejam para a trama, por vezes até mais do que os principais protagonistas. Foi o que se passou com Xavi e Iniesta, fundamentais nas superequipas do Barcelona e de Espanha, porque havia Lionel Messi, fosse como companheiro de equipa ou simplesmente personagem disruptiva, capaz de quebrar o princípio não escrito de que o vencedor dos prémios individuais deveria ter correspondência no melhor jogador dos vencedores coletivos.
A regra nunca se aplicou a ele, a não ser quando havia outra personagem superlativa a arrecadar troféus, como Cristiano Ronaldo, ou o seu rendimento baixava para índices pouco comuns.
Tal como Xavi e Iniesta, o Messizinho, como lhe chamavam ainda no Seixal, encontra sempre outros debaixo dos holofotes e não se parece importar. Os golos elevam Erling Haaland ou Julián Álvarez, as assistências Kevin De Bruyne, a irreverência Jack Grealish ou Phil Foden e, felizmente para ele, há um treinador que se lembra regularmente do seu anti-herói, um humilde cidadão comum a habitar no mundo de estrelas dos Citizens, que se preocupa com o bem-comum e se permite, de quando em vez, a um ou outro rasgo de genialidade. Pep sabe o quão importante Bernardo é para que tudo o resto funcione, mesmo que nem sempre tenha influência direta no resultado, com golos e assistências.
A hierarquia na Seleção assemelha-se bastante, com Cristiano Ronaldo ainda a colocar-se à frente de todas as objetivas e Bruno Fernandes em crescendo até ao recente e inabalável estatuto de maestro. Também aqui se observa que não nasceu para liderar, mas sim para ser exemplo. Um dos melhores. Quantas vezes os seus treinadores não terão dito Façam como o Bernardo, que vai correr bem?
Temo que o futebol daqui por uns anos acabe por não lhe dar a devida importância, o merecido e completo respeito pelo papel que garantiu em duas das melhores equipas do mundo. Um papel que não está espelhado no 9.º lugar de um prémio individual.
Nem sempre o jogo reconhece quem não teve problemas em descer do pedestal que o talento lhe garantiu e soube adaptar o seu perfil às necessidades da equipa, como Bernardo fez. Alguém que juntou o compromisso à classe e à inteligência. Por isso, ainda mais importante é que um técnico da relevância histórica que Guardiola terá sempre o faça.
No que diz respeito à Bola de Ouro, acredito que haja pouco a dizer. Uns aplaudirão, outros torcerão o nariz, haverá até quem seja ainda mais sonoro. Vai discutir-se nas próximas semanas. Não é um prémio objetivo, nunca será consensual e os debates não chegarão a qualquer conclusão.
A propósito, lembro-me de uma conversa com um dos meus filhos, que atirava nomes para o ar já antecipando com críticas a provável eleição. E ao que lhe respondia: não chega! Messi conquistou o título que faltava, um Campeonato do Mundo. É Messi, mimetizou Maradona, quebrou a sua última barreira e, ainda por cima, fê-lo ao ser decisivo. No palco dos palcos. Mesmo que, no passado, até possamos olhar com alguma sensação de injustiça para uma ou outra decisão, desta vez não interessa o que fez o Manchester City, nenhuma personagem sua parece suficiente quando comparado. Nem Haaland, com todos os seus golos. Ou Bernardo, melhor jogador da última Champions, por muito que todos nós gostássemos de tal reconhecimento.
E, confesso, há uma última coisa. E sublinho a palavra última. Só um jogador me fez duvidar da coroa que, para mim, Diego Maradona irá usar para sempre. Já perceberam quem, certo?"
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