"Mister, escrevo lhe esta carta porque o que me corre cá dentro é demais para o manter assim e precisava de me expressar mesmo que saiba que as hipóteses de isto chegar a ser lido por si sejam bastante remotas. Ainda assim, escrevo lhe tudo o que sinto neste momento.
A minha infância em termos desportivos foi algo conturbada, foi talvez das piores alturas da história do Benfica para se nascer do Benfica. Tenho quase 27 anos e a minha infância foi o chamado vietname do Benfica. Quando o Benfica foi campeão pela primeira vez que eu tivesse idade para me lembrar já tinha 13 anos. A minha infância foi passada a ser gozado na escola por amigos de clubes rivais à conta de não só o Benfica não ser campeão como de ser enxovalhado todos os anos a torto e a direito. Ainda assim, sempre fui do Benfica e é a única coisa que tenho a certeza que não vai mudar até me ir embora daqui. Talvez seja por isso que agora dou tanto valor a cada título, porque sei o que custa não os ter e estar anos e anos a fio a ansiar por um e festejo todos como se fossem o último.
Ver o Benfica é das maiores alegrias que tenho na vida e o estádio da Luz é dos poucos sítios onde me sinto verdadeiramente em paz. Entro e estou ali, a sofrer durante todo o jogo, a ganhar ou a perder. Foi esta sorte que o meu pai me escolheu na vida, ser do Benfica e sempre me ensinaram que isso era para o bem e para o mal. Para os 12 anos a seco a ser gozado todos os dias e para os 5 campeonatos nestes 6 últimos anos, isto vale para os dois lados.
No início desta época até o mister chegar fui perdendo uma coisa que sempre tive. Duas aliás, a esperança e a alegria de ver o Benfica. Não me interpretem mal, eu fui a todos os jogos, até taças da liga, mas ia cada vez com menos alegria e vontade. Ia lá cumprir o meu dever e não porque fosse uma coisa que me desse alegria de fazer. O Benfica jogava mal, a equipa nada fazia para nos dar valor de estarmos ali a ver aquela tristeza e o ambiente também não ia sendo o melhor. Não ia deixar de ser do Benfica, mas podia começar a dar menos importância.
Há duas coisas que tenho de lhe agradecer mister. A primeira, obviamente será pelo campeonato. Cada campeonato tem tido uma carga emocional acrescida por já não ter cá uma das pessoas com quem gostava de partilhar, tal como o mister tinha o Jaime Graça, todas as conquistas são dedicadas a eles mas fica sempre aquele vazio de já não estarem cá para sentir o mesmo.
A segunda, e para mim mais importante, é um sincero obrigado por me ter devolvido o Benfica e a alegria de ver o Benfica. Mesmo que não fosse campeão este mérito já ninguém lhe podia tirar. Devolveu nos o Benfica e devolveu nos a esperança. Pôs um plantel de jogadores que não foram escolhidos por si a jogar como eu nunca tinha visto o Benfica jogar. 10 golos num jogo, vitórias ao Sporting, Porto, Braga e Guimarães fora na mesma época, mais de 100 golos. Nunca tinha visto.
Nunca em Janeiro quando entrou pensei que isto fosse possível e talvez este ano saiba melhor por isso, porque quando já ninguém acreditava houve um homem que acreditou pelos milhões de adeptos deste mundo e esse homem foi o mister. Acreditou por todos nós e conseguiu devolver nos o Benfica e por isso, mesmo que eu não conheça o mister e que eu seja só mais um desses milhões deixo lhe aqui o meu profundo e eterno obrigado por tudo o que fez por mim e por todos.
O Ricardo Araújo Pereira tem uma frase aquando da morte do Eusébio: “Eu estou profundamente agradecido a Eusébio porque a minha vida é muito melhor por causa do Benfica e o Benfica é muito melhor por causa do Eusébio”.
A minha vida este ano foi melhor por causa do Benfica e o Benfica este ano foi muito melhor por causa de Bruno Lage. e por isso, por todo o trabalho e por ter acreditado por si e por nós, muito muito obrigado.
Até já e um abraço."
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