"Como nos clubes, as actuações dos árbitros são avaliadas durante a época. E é nas contas finais que se define quem fica no topo e quem fica no fundo da tabela. Que se define quem é promovido ou despromovido e quem é indicado à FIFA. Na prática, não há grandes diferenças entre quem dirige e quem é dirigido. Ambos põem em campo empenho, motivados por objectivos que só valorizam a competição. Mas nas equipas o ranking final resulta do mérito ou demérito das actuações, para os árbitros a avaliação é substancialmente diferente.
Sou da opinião que os árbitros devem ser avaliados, apenas e só, pelos desempenhos em campo. Devem fazer provas físicas e escritas sim, mas só para atestar a condição física e conhecimentos teóricos. Porque essas variáveis são um meio para atingir um fim, não um fim em si. O fim é arbitrar bem. Se continuarmos a permitir que esses testes contem para a avaliação, corremos o risco de estarmos a potenciar bons atletas e excelentes teóricos, mas não necessariamente bons árbitros.
A preparação física e psicológica deve ter como foco principal a criação de condições para bem dirigirem os jogos. Apenas isso. É no campo que provam o valor. É lá que exercem a arte de arbitrar, de lidar com jogadores e emoções fortes. É lá que gerem a pressão, o grito do atleta, a intolerância do treinador ou o insulto do adepto. É lá que mostram gualidade, coragem e competência. É lá que adquirem a experiência e se tornam melhores. Mais credíveis e mais respeitados. O que acontece é outra coisa. Tão complexa quanto desnecessária. A realização de várias provas com carácter avaliativo aumentou de forma comprovada, o número de lesões, porque obriga-os a semanas de preparação específica e treino intensivo, longe do habitat natural: o relvado. Mas, além destes, os árbitros estão sujeitos a outros factores de avaliação que não asseguram o princípio da igualdade. Exemplo? Os graus de dificuldade atribuídos a certos jogos. Nem todos os árbitros dirigem jogos de grau máximo, embora sejam todos da primeira categoria. Faz sentido? Um factor profundamente diferenciador usado de forma tão subjectiva? Não. Outro exemplo? As classificações finais poderem variar em função do posicionamento da Secção de Classificações, que tem a premissa de pedir as revisões de notas que entender, com base em critérios que, na verdade, os árbitros nunca perceberam. Subjectividade a mais. Tudo isto é seguramente bem intencionado, mas tornou-se evidente que é demasiado falível para ser justo. As classificações dos árbitros não são meros procedimentos burocráticos. São um assunto sério, que define carreiras, expectativas profissionais, pessoais e familiares. É urgente que passem a obedecer a parâmetros claros, objectivos, factuais e transparentes. Todos devem ser avaliados em igualdade de condições, do mesmo modo e forma. Com os mesmos meios. A única interferência humana deve pertencer ao próprio árbitro, na sua actuação.
Compete à nova estrutura da arbitragem resolver este imbróglio que, diga-se, existe desde sempre. E só por isso permitiu que tantos erros e injustiças fossem cometidas nos últimos anos. Com benefício imerecido de uns e prejuízo desnecessário de outros. O compromisso empenhado dos árbitros merece que, no final, seja dado mérito a quem teve mérito. E honra a todos os que o tentaram. Basta isso. Só isso.»"
Duarte Gomes, in A Bola
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