"Há duas semanas, na sequência de uma reunião que sentou à mesma mesa treinadores e directores de clubes que participam na Séria A italiana, correspondente à Liga portuguesa, e representantes da arbitragem foi decidido abolir qualquer tipo de referência sobre o trabalho dos árbitros. «Os treinadores não vão responder mais a questões sobre grandes penalidades ou sobre o trabalho dos árbitros porque os árbitros não têm possibilidades de responder. Isso parece injusto», declarou na altura Renzo Ulivieri, presidente da associação italiana de treinadores de futebol.
A medida é interessante e revela, no mínimo, o cuidado em proteger a saúde do espectáculo, livrando-o da praga de sucessivas polémicas geradas pelas decisões dos 'homens do apito', em Itália como em Portugal, dois países do sul da Europa e por isso dados a emoções exacerbadas por causa de um jogo de futebol, o qual, em vez de tema de discórdia, devia ser encarado, sempre, como momento de festa.
O problema não se situa ao nível da reacção espontânea a presumível erro do árbitro, desde que não sejam violados os limites da razoabilidade, porque um estádio de futebol cheio de gente é a expressão sublime de uma panóplia de sentimentos como alegria, tristeza, entusiasmo, desilusão, solidariedade. Espaço de sã convivência feito de risos e lágrimas, que acontecem e se esboroam quando, lá em baixo, no relvado, os artistas se abraçam em sinal de respeito, uns vitoriosos, outros derrotados. E acabou... até ao próximo jogo.
Todos falham, os árbitros, sim, mais os jogadores, quando repetidamente, através de frases feitas, se diz que 'foram perdulários' ou 'esbanjaram muitas oportunidades de golo', e os treinadores, estes, se calhar, no topo da lista de pecadores, mas hábeis e rápidos, no entanto, a. aproveitarem-se de supostos deslizes de quem arbitra para esconder carências e justificar trapalhadas de análise na chamada 'leitura do jogo'.
Sejamos claros, há muito se sabe que a arbitragem funciona como 'sociedade secreta', com regras que só ela é capaz de interpretar, a quem os clubes, cada qual com os seus interesses e objectivos, concederam liberdade e poder (essa é a questão de fundo) para influenciar classificações e combinar até, quem desce e quem não desce. A partir daqui a derrapagem tornou-se incontrolável. Ninguém se quer dar conta disso, porém, e, curiosamente, tudo leva a crer que os que mais barulho fazem talvez sejam os que mais culpas carregam.
Dentro desta linha de raciocínio, tão precipitado foi, por exemplo, o treinador do Paços de Ferreira ao transformar um presumível deslize de arbitragem em drama de brutais consequências, pelo facto de só ter somado três pontos nas últimas seis jornadas, como despicienda a atitude do presidente leonino ao utilizar o brinquedo das redes sociais em mais um exercício de má vizinhança, de alvoroço social e... de falta de memória: atirou-se ao Benfica e ao FC Porto. Ninguém escapa ao seu crivo censório...
O treinador leonino, na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Rio Ave, foi explicito:
«Temos bons árbitros e também não é fácil arbitrar em Portugal, porque tudo é revisto ao pormenor após os jogos e aí é mais fácil ter uma opinião mais acertada (...) mas temos bons árbitros e confiamos neles.»
Jesus percebeu que era importante colocar ponto final nesta feroz campanha antiarbitragem, mas o seu presidente continua a pensar de maneira diferente, de aí que, nesta ponta final da Liga, além dos obstáculos que os adversários naturalmente lhe vão colocar outro se lhe depara chamado Bruno de Carvalho.
Quando o treinador subscreve tudo quanto o presidente diz entra em contradição: não só amarrota a opinião que expressou há quinze dias como se põe a jeito para ser olhado como bonifrate, dependente das ideias e da personalidade do mesmo presidente. Sem precisar.
Possui o plantel mais equilibrado na relação quantidade/qualidade e também o que oferece mais solidez. Além de já dever ter percebido que nem Vitória nem Peseiro lhe tiram o sono. Por isso, a Bruno de Carvalho dá jeito colar-se a Jesus, mas a Jesus, creio, tanto se lhe dá... O que ele deve querer é Octávio Machado em forma e de volta."
Fernando Guerra, in A Bola
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