"Jonas é uma espécie de reserva espiritual de um futebol que nos foge por entre os dedos. Em vez de ser protegido há quem exija a sua cabeça. É preciso ter lata! Ou ser ignorante. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Há muita rua naquele futebol de mentira e picardia, aceleração e travagem, instinto e saber; nele concentram-se os traços do malandro comprometido com a causa e que, na hora certa, é capaz da solução personalizada que, afinal, esteve sempre no seu horizonte. Jonas é hoje um craque maduro orientado por sonhos da adolescência e pelo estilo depurado de quem sobreviveu em menino com a bola nos pés. É um mago que gera simpatia pelo estilo e resolve todos os problemas ao contrário do que sugere, de tal forma que, muitas vezes, até os companheiros se perdem. No início dos anos 90, ao serviço do Boavista, Manuel José dizia que João Vieira Pinto, então com 20 anos, que não podia apenas tomar decisões: tinha de anunciá-las com a subtileza de um gesto ou de um olhar cúmplice, sob risco de ninguém o entender. 'Pensas dois ou três segundos à frente e isso pode ser uma dificuldade acrescida para nós', explicava um dos treinadores mais titulados da história do futebol português.
Jonas é um dos melhores jogadores da Liga e um referência do Benfica, ao serviço de quem apontou 39 golos em pouco mais de um ano. O seu perfil futebolístico remete para um modelo de jogo em posse e ataque posicional, preferencialmente num sistema de 4x4x2 (e não em 4x3x3); se a máquina emperra por qualquer motivo, a solução não é abdicar de um génio em nome da táctica mas adaptá-la à melhor forma de potenciar a prestação de um dos expoentes máximos da equipa. Jonas não se realiza na solidão de lutas inglórias com os defesas nem satisfaz a geometria do passe longo; precisa de alguém próximo para consolidar o rendilhado das criações inverosímeis porque os deslocamentos mais amplos e constantes danificam-lhe o instinto goleador. E isso é rouba-lhe armas com exerce na área: onde o tempo passa num estalar de dedos, introduz pausas sem fim; na zona que potencia a ansiedade, a ele baixam as pulsações.
Por todos os motivos, Jonas é um avançado com argumentos para ser letal na zona de finalização, porque os efeitos do seu jogo imaginativo e concreto podem ser devastadores: um simples drible pode criar um latifúndio; os contactos físicos multiplicam as faltas, os cartões e estimulam agitação que também conta para desestabilizar. Em certos contextos tem de ocupar terrenos mais recuados, ocupando espaços importantes para o equilíbrio da equipa. Sente-se menos à vontade, porque se afasta da baliza e fica obrigado a viver segundo códigos de conduta mais rígidos que os espíritos livres e inventivos têm dificuldade em cumprir - longe da área precisa de cumprir regras, fazendo o que deve e não o que sente. Mas nada justifica pô-lo em causa no primeiro grão na engrenagem. De resto, a facilidade com que a recriminação atinge estrelas como Jonas suscita desde logo uma revolta: que raio de desporto é este em que os melhores são postos em causa e os funcionários, como há milhares por aí, são defendidos com unhas e dentes?
Os artistas têm por hábito escandalizar os espíritos mais tacanhos; põem a nu os preconceitos de algumas considerações e suscitam a discussão se merecem liberdade para dar largas ao talento ou se devem seguir o rebanho e serem iguais aos outros. É uma ideia peregrina considerar que uma das razões para o parcial insucesso do Benfica em 2015/16 é um dos seus maiores expoentes; que a máquina tem andado aos solavancos pela presença de um dos seus dois jogadores de nível mundial (o outro é Gaitán). Jonas é um espécie de reserva espiritual de um futebol que nos foge entre os dedos. Em vez de ser protegido como génio manietado num conjunto que não dá saída ao seu futebol de vistas largas, há quem exija a sua cabeça como responsável por muito do que o Benfica não tem conseguido fazer. É preciso ter lata! Ou ser ignorante. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.
- Quando chegou, a custo zero, oriundo do Valência. Jonas já tinha passado pela selecção brasileira. Não era um qualquer.
- A dupla com Lima revelou-se absolutamente decisiva para a conquista do título em 2014/15. O entendimento foi perfeito.
- Com Rui Vitória não perdeu o jeito de fazer golos - é o melhor marcador da equipa. Mas ainda não atingiu o máximo.
(...)
As várias lições de Fabiano Soares
O Estoril deu notável demonstração de qualidade na visita ao líder da Liga
Fabiano Soares surpreendeu pela estratégia em Alvalade. O treinador brasileiro recusou-se a especular, assumiu que estava ali para discutir a vitória e jogou de igual para igual com o poderoso Sporting. Foi arrojado sem ser suicida; ambicioso sem ser arrogante; arriscado sem ser inconsciente. Defendeu a integridade da equipa, valorizou os seus jogadores e mostrou que há futebol em Portugal para lá dos grandes.
CR7 já admite o fim da linha
O que já conseguiu em meia dúzia de épocas no Bernabéu é inacreditável
Ronaldo verbalizou por fim a evidência que outros já tinham detectado: pode estar no fim a passagem pelo Real Madrid, que qual deu os melhores anos da carreira. Em Chamartín, CR7 entrou na história como goleador máximo do clube; tornou-se um dos melhores de sempre e bateu os recordes do clube mais ganhador da história do futebol. Mais incrível ainda é perceber que tanto parece não ter sido suficiente."
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