"Morreu António Leitão, um atleta que honrou Portugal e enobreceu o Benfica. Não o conheci pessoalmente, mas sei que sempre foi um homem simples e integro. Solidário, amigo tanto do colega como do adversário na corrida da pista. Terminou muito cedo a maratona da vida.
Ao mesmo tempo, um jovem futebolista congolês do Bolton luta pela sobrevivência, depois de súbita doença no exercício do seu ofício.
Vem-me à mente a morte de Fehér em circunstâncias idênticas. Num segundo que, inexoravelmente, separa a vida da morte. Numa relva molhada que acolheu silenciosamente os pingos de suor do seu último esforço.
Diante do mistério, bem sei que a única coisa com que não conseguimos conviver é com a ideia da morte, afinal a única certeza.
A sua não determinação no tempo de cada um faz da vida um trajecto quase imortal na cabeça de uma criança, um desenlace longínquo no coração de um jovem, uma ponderação racional na mente de um adulto, uma incerteza certa na alma de um velho. Como um dia alguém escreveu, na juventude pensamos na morte sem a esperar e na velhice esperamo-la sem nela às vezes pensar.
Sei também que vivemos num tempo e numa sociedade sofregamente amnésica, onde o espaço para a memória e para o discernimento é facilmente engolido pela ditadura do presentismo e pela efemeridade da ilusão.
Tudo isto nos deve fazer pensar no valor da vida para além da opressão do detalhe. O detalhe de que alguns se julgam donos e senhores. Diante da morte somos todos pobres. Mas na memória podemos ser ricos. António Leitão é um deles. Aqui fica a minha singela homenagem memorial a um atleta de eleição."
Bagão Félix, in A Bola
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