"O FC Porto fez o que fez pelo mesmo motivo que o Benfica ou o Sporting. Porque acreditam que resulta. A culpa é de todos, dos árbitros também
Todas as histórias têm um princípio, meio e fim. Começando pelo fim, nomeadamente a consequência: é óbvio que não haverá qualquer sanção ao FC Porto para lá de uma simples multa no caso Fábio Veríssimo. Se já vimos um adepto do Benfica entrar em campo, na Luz, e dar um calduço a um árbitro assistente ou um adepto do FC Porto descer ao relvado do Dragão e agredir um jogador do Benfica (Pizzi), ambas as situações passíveis de castigos de jogos à porta fechada, e tudo se resolveu com uma multa, aqui o contexto é feito de interpretação. E se perante algo objetivo e factual como um indivíduo entrar em campo e agredir outro e nada acontece, muito maior é a margem de manobra para interpretação, ambiguidades e criação de zonas cinzentas em casos como este.
E se fosse mesmo para haver uma pesada decisão sancionatória, e tendo em conta o histórico da justiça desportiva portuguesa, o veredito só seria conhecido quando muitos meninos dos sub-13 daquele torneio particular já estivessem a jogar o Mundial sub-17 como aquele que decorre atualmente no Qatar. Mas para que não haja dúvidas: apesar de não ser jurista, acho excessivo considerar este um caso típico de coação a ponto de motivar a derrota do FC Porto.
Vamos agora ao princípio: só o FC Porto poderá explicar como e porquê decidiu usar este expediente, com contornos anedóticos como a história da TV bloqueada ou o lance de um jogo de sub-13 para servir de comparativo. E das duas, uma: ou a escolha de um golo no Torneio da Pontinha serviu de caricatura ou então foi mesmo literal, e aí já estamos a falar de algo mais patológico.
Ao que nos leva ao meio: se o FC Porto fez o que fez, mesmo que não tenha razão nos protestos (o golo ao SC Braga na primeira parte foi bem anulado por falta de Jan Bednarek sobre o guardião dos minhotos), é porque considera que vale a pena. Pela mesma razão que o Benfica emitiu um comunicado antes da Supertaça a criticar a escolha do mesmo Fábio Veríssimo. Ou que Frederico Varandas se tenha queixado de critérios de arbitragem numa entrevista concedida à Sporting TV, em fevereiro. Recordamos apenas estes três casos por serem os mais recentes e não causar fastio ao leitor - porque muitos mais haveria, à escolha do freguês e da cor clubística.
Mesmo que os dirigentes sejam outros, as práticas mantêm-se. Porque é da condição humana explorar a fraqueza. E uma das fraquezas do futebol em Portugal é o setor da arbitragem. Por falta de autoridade, sim, mas há que dizê-lo também por falta de qualidade. Há muitos Veríssimos e poucos João Pinheiros, mas acima de tudo há uma sensação, mesmo que eventualmente injusta, de que o compensa a pressão, a gritaria, o ruído (para usar a palavra da moda). Porque de uma forma ou de outra ocorrem flutuações consoante os ventos mediáticos e os adeptos (e todos aqueles que seguem o fenómeno) fazem correlações entre o choro e o pós-queixa. E não são apenas perceções.
Isto decorre de um problema estrutural que nunca será resolvido com comunicados da APAF (que é apenas uma associação de classe), mas com uma mudança orgânica que torne a arbitragem totalmente profissional, independente (mas a que se pede a correspondente exigência) e possa comunicar de outra forma; e que os regulamentos não sejam criados pelos próprios clubes, os mesmos que se queixam mas fazem tudo para não serem punidos. Depois admirem-se..."

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