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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Os paradoxos do futebol português


"Escrevo-vos com Portugal muito perto de garantir a 14.ª presença consecutiva numa grande competição. Escrevo-vos também poucos meses depois da seleção nacional conquistar a Liga das Nações. Pela segunda vez. Muito se poderá apontar à equipa de Roberto Martínez que, mais uma vez, ficou presa num rame-rame ofensivo frente a uma equipa mais fraca, que se fechou atrás. Está aqui um primeiro paradoxo: Portugal é uma equipa que tem mais dificuldades frente a uma Irlanda ou uma Eslovénia ultra-defensivas, do que contra colossos como França, Alemanha e Espanha. Mas, é certo, Martínez tem continuado a série virtuosa de Portugal, que tem estado sempre nos Europeus e Mundiais disputados neste século.
No sábado, em Alvalade, para ficar mais perto da viagem transatlântica às Américas, talvez Portugal tenha necessitado de ajuda divina, da estrela que acompanha esta equipa, encarnada na camisola 21, agora no corpo do seu amigo Ruben Neves. Os caminhos para a baliza são insondáveis e, no futebol, nem sempre a lógica impera, às vezes ganha o coração. Ainda bem.
Daqui a pouco mais de 24 horas pode chegar, então, o apuramento para o Mundial de 2026, no jogo frente à Hungria. Portugal tem de ganhar e esperar que a Arménia não o faça na Irlanda. Não será seguramente impossível olhando para o histórico e para as equipas. E com isso, Portugal fica apenas atrás de França, Espanha e Alemanha em matéria de passaportes carimbados de forma consecutiva para Campeonatos do Mundo e da Europa. Jogando de forma mais bonita ou mais pragmática, com gerações mais talentosas do que outras, Portugal não tem falhado o picar de ponto nos grandes palcos. E já tem troféus. Agora, até a calculadora não tem sido chamada a agir. Isso é um legado, a fortificação de um estatuto, que parecia impensável há 40 anos.
O que parece, lá está, paradoxal quando olhamos para dentro de portas, num país sem centralização de direitos audiovisuais, que não se entende em matéria de estrutura competitiva e em que nem se sabe bem que verbas estão destinadas às federações e ao desporto no último Orçamento do Estado, em que o setor aparece emparelhado com a juventude, sem direito, aparentemente, a especificidades próprias.
A última semana foi feita de acusações. Nada de novo, há sempre guerras, costas voltadas. Mas desta vez todos quiseram participar, Benfica, Sporting, FC Porto, os três em guerra aberta numa trincheira tripartida. E o Benfica em luta autofágica em plena campanha eleitoral. Ameaços de queixas sobre jogadores, participações de presidentes contra outros, arbitragens contestadas sem razão, utilização de bonitos vocábulos como “calimero”, “mapeamento clubístico” e quejandos. Tudo protagonizado por uma nova geração de dirigentes que entrou prometendo um discurso mais moderno, mais preocupado com esse conceito de “futebol português” e não com guerras estéreis, tão anos 90 que se tornam, rapidamente, aborrecidas.
Haverá outra forma de cada clube defender os seus interesses. E haverá outras formas de tratar um futebol que nos últimos dias até deu o primeiro futebolista multimilionário ao mundo. O futebol português, que esta semana recebeu alguns dos maiores nomes internacionais na sua moderna e tecnológica casa, numa cimeira pomposa, é um paradoxo andante.

O que se passou
Tadej Pogačar chegou às cinco vitórias consecutivas na Volta a Lombardia, fechando com um feito histórico a que diz ser a sua “melhor época de sempre”. A questão é que o esloveno anda há anos a dizer isso. O melhor de sempre? Talvez a conversa já tenha de ser essa.

Sérgio Conceição vai continuar a carreira de treinador no Al Ittihad, da Arábia Saudita."

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