"Há memórias que pesam mais do que vitórias .Rui Costa vive dentro da sua. O ícone que criou protege-o e aprisiona-o, e o Benfica chega a uma encruzilhada de alma. A responsabilidade é tremenda
Rui Costa navega na jangada que é o ícone que criou enquanto jogador, desde a formação ao regresso antes do adeus, do benfiquismo exacerbado que o leva aqui e ali a lágrimas de gratidão, da resistência natural à mudança e do medo do desconhecido. Não foi o pouco que fez e o muito que não fez durante os últimos quatro anos enquanto capitão de um barco abandonado pelos lugares-tenentes um atrás do outro, que lhe garantiram 42% dos votos, nem o projeto populista, aí parecido com os dos outros, ainda que escrito com quatro ou cinco bullets no PowerPoint, que nunca comprometem, e ainda assim alegadamente copiados noutro divulgado bem antes.
Não foram os títulos, não foram as modalidades, não foram as contas, não foi o património criado, não foi o carisma ou a esperança que irradia da sua liderança em definitivamente deixar o quase e conquistar troféus, entregando a hegemonia prometida ao clube. Foi tudo o que está acima e ainda o medo do bicho-papão, que antes era gordo, careca e rasgava contratos, e agora é visto, por algum vidente dos tempos modernos, nos gestos e palavras dos outros cabeças de lista.
Se o futebol português precisa de um Benfica forte, Rui Costa apresenta-se como dirigente medíocre, sem legado, e teima em escapar de ser julgado por este. Noronha Lopes e todos os outros foram já sim julgados pelo que não têm.
A maior parte dos 85 mil escolheu a rotura, já que Vieira também estava contra Rui Costa. Essa é a leitura do copo meio-vazio, por muito que o atual presidente queira beber do meio-cheio. Porque era ele que estava em escrutínio. Mas Noronha Lopes, o mais votado dos outros, falhou. Focou-se demasiado no quanto Rui Costa havia sido mau que se esqueceu de explicar como ele próprio era bom. Foi ingénuo face aos ataques menos corretos de que foi alvo, porém não percebeu que, quando os olhos viravam para si, estava nu. Agora, é o momento de «o quê» virar «como», e de se construir num candidato bem mais forte.
A olhar à distância, depois de ter defendido a mudança e de ver o que esta significou para FC Porto e Sporting, tenho afirmado que Rui Costa não tem condições para mais quatro anos. Mantenho. De qualquer forma, a decisão é de quem vota. Os sócios irão assumir, no dia 8, uma das decisões mais importantes da história do clube, talvez até com novo recorde. E arcar com toda a responsabilidade! Eu respeitarei a minha: a de manter um olhar crítico construtivo sobre o eleito. Seja quem for."

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