"Rui Costa saiu reforçado, Noronha Lopes continua com o direito ao sonho, Luís Filipe Vieira encontrou encerramento digno para a sua fase no Benfica, e João Diogo Manteigas revelou-se como quem tem condições para correr em pista própria. A grande vitória, pela votação histórica, foi do Benfica, e no próximo dia 8 a única certeza é a de que nada é absolutamente certo....
Nas eleições do Benfica aconteceu tudo o que estava previsto, mas de forma imprevista. Era expetável que Rui Costa e Noronha Lopes se defrontassem numa (inédita) segunda volta, e dia 8 de novembro próximo, lá estarão os dois a lutar pela presidência do Benfica. Porém, se um homem é ele e a sua circunstância, as circunstâncias destes dois alteraram-se bastante. Rui Costa deixou de ser o ‘undergog’ que as sondagens garantiam, e passou a ser claro favorito na contenda. A votação que obteve foi expressiva, 85.400 sócios do Benfica foram muito claros ao dizerem o que queriam para o clube, e quem não for capaz de fazer a leitura correta, continuará a pensar que está na ‘bolha’ das Assembleias Gerais do Benfica, onde menos de um milhar de associados decide aquilo que deve depender de uma vontade coletiva muito mais alargada.
VITÓRIA DE RUI COSTA
Rui Costa, mesmo sem ter chegado à maioria absoluta, foi o claro vencedor das maiores eleições jamais realizadas num clube desportivo, e está em ótimas condições para garantir a reeleição.
Porém, como só o peru morre de véspera, e só a pescada antes o ser já o era, é bom que ninguém tome a nuvem por Juno e todos se consciencializem de que a 8 de novembro há um novo jogo, que, em tese, começa empatado.
Devo dizer, desde já, que apesar da derrota clara sofrida no último sábado, Noronha Lopes faz muito bem em ir disputar o segundo turno a que ganhou direito, porque é para aí que os estatutos apontam, e até lá haverá, por certo, novos argumentos para esgrimir. Porém, se me perguntarem se é boa para o Benfica a bipolarização suscitada pelo novo modelo plasmado nos estatutos, devo dizer que, dada a diferença entre os candidatos, não. Por outro lado, não estou a ver com que cara Noronha Lopes se apresentaria perante os seus apoiantes se, aqui chegado, jogasse a toalha ao ringue e assumisse a derrota. Ou seja, qualquer um em seu perfeito juízo avançaria para a segunda volta. Portanto, daqui a duas semanas há mais, e durante esse período cada um dos candidatos queimará os derradeiros cartuchos, Rui Costa com mais conforto, e Noronha Lopes sem ter nada a perder.
SONDAGENS E CLUBES
Há umas semanas escrevi neste espaço que não acreditava minimamente nas sondagens que vinham a ser publicadas, não por má fé dos meios que as iam veiculando, ou, muito menos, por incompetência das empresas que as organizaram, mas, simplesmente, porque num universo eleitoral tão dispare como o Benfica, era impossível ser fiável. Os resultados, que foram no sentido contrário ao que todas as auscultações de opinião apontavam, explicam o porquê do meu ceticismo.
Não sei se no próximo ato eleitoral do Benfica votarão mais ou menos sócios que no passado sábado, menos sei ainda se quem votou noutras candidaturas estará disposto a seguir a disciplina de voto que o líder lhes indicar. As únicas coisas que sei é que, por um lado, as notícias que davam conta da falência de Rui Costa eram manifestamente exageradas; por outro que, ao entrar na história com o ato eleitoral num clube mais concorrido de sempre, o Benfica deu uma prova de vitalidade que vai muito para além deste ou daquele resultado ou título. E, se calhar, esse é o maior trunfo de Rui Costa, nele se encontrando a razão da votação expressiva que teve: há, entre os benfiquistas, a perceção de que o antigo ‘maestro’, com quem mantêm laços afetivos muito fortes, é capaz de gerir de forma equilibrada o clube; de que o futebol está numa via ascendente (a que não é alheia a chegada de José Mourinho); e que é melhor preferir o certo ao incerto.
NORONHA, VIEIRA, MANTEIGAS
E Noronha Lopes, que tanto investiu nesta campanha, onde fica no meio disto tudo? Em primeiro lugar, não estamos perante uma carta fora do baralho, e ainda terá trunfos, negociados nos bastidores, a atirar para cima da mesa, mesmo que não estejamos perante a fidelidade política que fez de Mário Soares Presidente da República, na segunda volta, com Freitas do Amaral; depois, por mais contrariado e desiludido que tenha ficado com o resultado obtido, mostrou ser alguém com uma visão alternativa do clube, que não se coibiu de defender. E ainda entram outras variáveis, imponderáveis, como a disposição dos benfiquistas para, novamente, acorrerem em massa à segunda volta; e ainda o lado emocional, que pode derivar dos próximos resultados da equipa de Mourinho.
Porém, claramente, até por lhe terem colocado a fasquia tão baixa, Rui Costa emergiu como o grande vencedor (parcial) deste ato eleitoral. Mas não foi o único: a votação em João Diogo Manteigas, que tem uma ideia sobre o Benfica e não deverá desejar ver o seu nome associado a coligações negativas, colocou-o no mapa para próximas eleições; por conhecê-lo há vários anos não direi que foi uma surpresa, direi antes que esteve ao seu melhor nível, daí que não me pareça curial que apoie, na segunda volta, qualquer projeto diferente daquele que corporizou, por tratar-se de alguém que corre em pista própria, e não deve querer ser lebre de ninguém. Veremos...
Finalmente, Luís Filipe Vieira. Deu a cara, foi a votos, e conseguiu, através de uma votação surpreendente para muitos, um encerramento para a sua fase no Benfica. Percebeu, finalmente, que o seu tempo já passou, e daqui em diante deverá agir no sentido de ver o legado que deixou (e quem disser o contrário, só pode estar a ser inteletualmente desonesto, porque até 2016 fez o Benfica renascer das cinzas) preservado.
SEGUNDA VOLTA
Dia 8 de novembro haverá nova ida às urnas, Rui Costa surge como favorito, mas em eleições deste tipo as variáveis são tantas que não me atravesso a dizer quem vai ganhar. Sei que no sábado ganhou o Benfica, ao mobilizar 85 mil pessoas para umas eleições de clube. E só este facto devia ser suficiente para quem propôs e votou a renovação estatutária, cair em si e admitir que cometeu um erro histórico: as decisões importantes da vida do clube não podem ser tomadas em Assembleias Gerais com menos de um milhar de participantes, que moram na zona de Lisboa e são mais militantes. O caminho, se o Benfica decidir que continuará a ser um clube dos sócios, valorizando a sua universalidade, só poderá ser percorrido com clareza através da constituição de uma Assembleia de Delegados, cada um a representar determinado número de sócios. Caso contrário, o Benfica, que possuiu uma Catedral, será dirigido em reuniões de capela."

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