Últimas indefectivações

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

A lucidez (ou falta dela) dos sócios do Benfica


"Qualquer que seja o candidato escolhido pelos associados encarnados nas eleições de 25 de outubro, seria mau sinal se a opção fosse determinada pelo resultado do FC Porto-Benfica deste domingo

Na eterna história do desporto-rei, sempre que há um FC Porto-Benfica, como o deste domingo, escreve-se um capítulo carregado de simbolismo, emoção e memória. Quem disse que todos os jogos (só) valem três pontos? Mas há momentos em que as lutas no relvado, com prazo de validade de 90 minutos, ameaçam influenciar batalhas fora dele nas quais se decidirá o futuro a longo prazo dos clubes. O duelo do Estádio do Dragão — 20 dias antes das eleições para a presidência dos encarnados marcadas para 25 de outubro — é um desses casos em que um resultado poderá ter um peso decisivo nas escolhas dos sócios.
É natural que uma vitória ou uma derrota num encontro de tamanha dimensão provoque ondas de euforia ou desalento. No entanto, seria preocupante — e até sintomático de uma certa imaturidade coletiva — que um desfecho nas quatro linhas, seja em que sentido for, determinasse o voto dos benfiquistas. Destes ou de quaisquer outros adeptos de cores diferentes em contexto eleitoral. O mandato de um presidente do Sport Lisboa e Benfica é de quatro anos. E quatro anos de decisões, investimentos, conquistas e erros não podem ser reduzidos a uma partida de futebol.
A história dos clubes está repleta de exemplos em que a precipitação se sobrepôs à reflexão. A paixão, tantas vezes irracional, é motor que move milhões e milhões. O perigo é quando se trata de definir o rumo institucional dos clubes e se encara a cadeira do poder como se fosse um prémio de um simples jogo, ao invés de uma recompensa pelos méritos de gestão e liderança. Quem confunde os dois planos está a misturar imediatismo com visão estratégica — e a comprometer o futuro.
Não custa adivinhar que os sortilégios do clássico serão interpretados como um teste à direção liderada por Rui Costa. Um triunfo poderá ser lido como validação do trabalho que está a realizar; um desaire, como prova de desgaste e de fim de ciclo. Essa leitura simplista, porém, ignora a complexidade de uma enorme instituição como é o Benfica. A avaliação, positiva ou negativa, das opções desportivas, do equilíbrio financeiro, das apostas na formação, da relação com os adeptos, da credibilidade e do lugar do clube na Europa é o que deve importar nas urnas.
Um associado lúcido, salvo melhor opinião, perguntar-se-á: o que é o Benfica de hoje em comparação com o de há quatro anos? Cresceu em sustentabilidade financeira? Melhorou a estrutura diretiva e futebolística? Afirmou-se como referência nas diversas modalidades? Essas são as questões que deveriam nortear o voto. O resultado de um jogo, por mais simbólico que seja, não responde a nenhuma delas. O FC Porto-Benfica é importante. As eleições são fundamentais."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!