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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Pode Mourinho ser quem não é?


"O clássico deste domingo entre FC Porto e Benfica tem todos os ingredientes que Mourinho adora. E ele sabe como tudo pode mudar num instante, inclusive já esta noite a partir das 21h15 no Dragão, onde começou a conquistar o Mundo

Ouço Sérgio Godinho, versão 1972, e é ao som do clássico Pode alguém ser quem não é? que viajo por instantes pelas histórias de vida e pela certeza de como esta, a vida, tantas vezes nos transforma. Godinho, mesmo que mantendo parte relevante da essência, já não é quem era há 53 anos quando deu som à letra da música que sai da coluna enquanto escrevo. Não tem como ser o mesmo. Ninguém é. Mas... pode alguém ser quem não é? O voo musical iniciado ali nos primórdios dos anos 70 por Godinho transporta-me, entretanto, para a madrugada do século XXI quando o ainda jovem José Mourinho — por essa altura, apenas conhecido por ser o adjunto, primeiro de Bobby Robson (no Sporting, no FC Porto e no Barcelona), depois de Louis van Gaal (também no gigante catalão) — ingressou como um furacão na carreira de treinador principal logo pela porta grande do Benfica, aposta, então, de Vale e Azevedo e que terminou após um período eleitoral (a par do que agora sucede na Luz), porque o vencedor, Manuel Vilarinho, havia prometido que o seu treinador era Toni.
O último jogo no comando do Benfica, nessa sua primeira passagem, foi marcante: 3-0 frente ao Sporting, que era o campeão em título e que, logo depois, até o contratou, acabando por dar o dito por não dito e vendo, afinal, Mourinho voar para Leiria e, mais tarde, para o FC Porto.
O esplendor da história a que se assistiu ao longo dos 17 anos seguintes é bem conhecido de todos: 25 títulos conquistados, entre os quais duas Ligas dos Campeões, duas Ligas Europa e 21 troféus nacionais, entre Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha, que dele fizeram um dos melhores treinadores do Mundo e, de longe, o melhor português de sempre.
Os últimos oito anos, porém, trouxeram um vazio de glória que foi apagando a chama de outros tempos de José Mourinho. Com apenas um título conquistado — a Liga Conferência pela Roma em 2022 — as dúvidas em torno do Special One foram aumentando. Mas... pode alguém ser quem não é? Ou melhor: pode Mourinho ser quem não é? Tal como Godinho, também Mou mudou. É óbvio que mudou. À vista, porém, dos primeiros tempos deste regresso ao Benfica, a essência está toda lá. Não será, hoje, o mais inovador dos técnicos de futebol, mas a ironia, os mind games e o charme, aliados à experiência e conhecimento que tem, como poucos, desta indústria, esses continuam bem presentes. O clássico desta noite com o FC Porto é mesmo daqueles jogos ao jeito de Mourinho. Resta saber se este não perdeu o jeito."

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