"Assumamos aquilo que já estava evidenciado: os resultados desportivos terão grande influência no desfecho das eleições de outubro. Tendo isso em mente, torna-se difícil perceber como é que os encarnados continuam a pôr-se a jeito (Arouca e Aves podem ter-lhes custado o último campeonato), oferecendo esperança aos adversários até ao derradeiro suspiro. O que sucedeu com o Santa Clara já podia ter sucedido na Reboleira ou em Alverca...
As eleições do Benfica, marcadas para o próximo dia 25 de outubro, entraram numa nova fase, que deixa a nu, para quem ainda tivesse dúvidas, o nexo de causalidade entre o sentido de voto e os resultados desportivos. Para além da desnecessária alusão de Bruno Lage à promessa eleitoral de Noronha Lopes, envolvendo Bernardo Silva (Jimmy Hagan ficou famoso pelo ‘no comments’ com que invariavelmente atalhava aquilo de que não queria falar), o empate caseiro dos encarnados frente ao Santa Clara agitou os ‘gatos’ dentro saco dos candidatos, uma figura de estilo sempre presente em atos eleitorais, seja de que natureza forem. À medida que vão aparecendo por Lisboa cartazes de Luís Filipe Vieira, que dizem ‘O Presidente Voltou’, Bruno Lage passou, definitivamente, a ser um alvo a atacar, para enfraquecer Rui Costa. Pelos vistos, pouco importa para o discurso mais imediatista o apuramento para a Champions (um bálsamo para o próximo presidente, seja ele quem for), a vitória na Supertaça, ou o percurso limpo que o Benfica vinha a fazer na Liga. Aqui chegado, poderia dizer que bastou uma fífia de Otamendi para ser tudo ser colocado em causa. Não o farei, contudo, porque entendo que o que aconteceu aos encarnados frente aos açorianos, esteve para acontecer na Reboleira e em Alverca, e sucedeu, na época passada em Arouca (empate de Wewerson aos 90+5) e Aves (empate de Devenish aos 90+4), quatro pontos ‘oferecidos’ que podem ter custado o título aos encarnados. E quando digo ‘oferecidos’ não estou a retirar mérito ao Arouca ou ao Aves, estou, sim, a evidenciar que, tal como aconteceu na sexta-feira frente ao Santa Clara, faltou instinto matador, profundidade e agressividade ao Benfica para, em vez de dar esperanças e fazê-lo acreditar, colocar o adversário KO. Estabelecido (na minha opinião, que não é verdade absoluta) que Lage passou a ser meio de retirar argumentos a Rui Costa, viremos a nossa atenção para o plantel (ainda é cedo para se falar em equipa) que os encarnados construíram, deixando de lado os números contraditórios do ‘deve e haver’, apresentados pela SAD e pela Oposição, algo que pertence, sobretudo, ao campo da ‘politiquice’. Com Dedic, Obrador, Ríos, Barrenechea, Sudakov e Ivanovic, obviamente que o Benfica ficou com mais ovos para fazer uma saborosa omelete, o que também significa que, associado, entra em cena também uma maior exigência por parte dos adeptos.
Ganhe quem ganhar as eleições, vai ter os milhões da Champions a dourar as contas, e um plantel de grande qualidade, eventualmente apenas a necessitar de um ou outro acerto pontual no mercado de inverno. E herdará (ou continuará a ter) outro bem precioso e, por vezes, difícil de explicar: o entusiasmo de uma massa adepta rejuvenescida, que jogo a jogo enche o estádio da Luz.
Se é certo que nenhum clube ganha tudo, todas as vezes, o sucessor de Rui Costa (quem sabe, ele mesmo) terá condições incomparavelmente melhores, a anos-luz de distância, das que se depararam a Manuel Vilarinho em 2000 ou a Luís Filipe Vieira em 2003. Só assim se entende, aliás, que tenham surgido tantos candidatos às eleições de outubro. O Benfica é um clube apetecível."

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