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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Heróis, novos ou velhos, sempre heróis


"Depois de Cristiano Ronaldo ter ultrapassado, em feitos e dimensão mundial, Eusébio, é agora João Almeida que está cada vez mais perto de se comparar com Joaquim Agostinho, na medida em que é possível comparar o Angliru com o Alpe d’Huez. É a dinâmica da vida...

Joaquim Agostinho e João Almeida nasceram, com uma diferença de 55 anos, relativamente perto um do outro, no Oeste português, o primeiro em Brejenjas, Torres Vedras, e o segundo em A dos Francos, Caldas da Rainha, localidades separadas por 52 quilómetros. Agostinho teve o triunfo mais belo da sua carreira quando, a 15 de julho de 1979 foi primeiro na escalada do mítico Alpe d’Huez, durante o Tour, que terminou no pódio. Foi uma vitória de tal forma marcante que, na curva 17 dessa subida, pode ser encontrado um monumento que celebra tão grande proeza, ou não tivesse deixado o camisola amarela Bernard Hinault a três minutos e 19 segundos. Duas décadas depois, um ano após o nascimento de João Almeida, a Vuelta ‘estreou’ uma montanha, que imediatamente foi considerada uma das mais exigentes do Mundo, o Angliru, 12,5 quilómetros com uma pendente média de 9,8 por cento e com rampas que chegam aos 23,6 por cento. Na última sexta-feira, depois de uma batalha titânica com o duplo vencedor do Tour, Jonas Vingegaard, o ciclista português impôs-se sobre a meta e inscreveu o seu nome como um dos conquistadores do Angliru. 46 anos depois de Agostinho no Alpe d’Huez, Almeida também, fez uma corrida para a eternidade.
No Desporto, não há verdades absolutas, e sendo injusto comparar o incomparável, ou seja, factos ocorridos em épocas e contextos diferentes, a verdade é que aquilo que há uns anos era considerado imutável - Eusébio e Joaquim Agostinho, os melhores portugueses de sempre, no futebol e no ciclismo – foi superado pela dinâmica dos tempos, Cristiano Ronaldo já o fez, e João Almeida está a caminho de fazê-lo. Porém, quando Eusébio e Agostinho, Carlos Lopes e Rosa Mota, António Livramento e Amália Rodrigues, iluminaram um Portugal pobre e cinzento, num tempo pré-globalização, quando o Mundo era, do ponto de vista da metáfora, incomensuravelmente maior do que é hoje e a televisão era a preto e branco, ganharam um lugar especial na alma lusitana, que continuava agarrada aos Descobrimentos, e estava pouco ou nada habituada a ver os seus a imporem-se fora de portas.
É uma bênção que surjam novos heróis, de Figo a CR7 (será Vitinha o próximo?), a João Almeida, a Neemias Queta, campeão da NBA, a Miguel Oliveira, cinco vezes vencedor no MotoGP, a Fernando Pimenta, aos olímpicos Évora, Pichardo, Iuri Leitão e Rui Oliveira (sem esquecer Fernanda Ribeiro), aos vencedores de um Europeu e de Dias Ligas das Nações, no futebol, sinal de que não só o País não parou, como ainda tem alargado o leque de modalidades (que diferença, por exemplo, no andebol e no basquetebol!) que nos fazem sentir orgulhosos. Mas, e se calhar é uma coisa geracional, a admiração por quem conquistou o Mundo – por exemplo, os ‘Magriços’ - nos tempos em que ir a Ayamonte, Badajoz ou Tui era uma aventura, terá sempre qualquer coisa de diferente e especial.

PS – Por falar em coisas que muitas vezes são mais fáceis de sentir (porque crescemos a vê-las e a gostar delas) do que explicar (em função da falta de expressão internacional), que bom foi assistir à 22.ª vitória de Portugal no Campeonato da Europa de hóquei em patins!"

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