"Há fenómenos que parecem curiosidades isoladas, mas que acabam por sinalizar mudanças profundas. Nos últimos meses, o mundo desportivo assistiu a algo inesperado: criadores de conteúdos digitais a comprar direitos de transmissão de competições. Foi o que aconteceu no Reino Unido com o acordo entre a Bundesliga e dois canais de YouTube (That’s Football e The Overlap), na Arábia Saudita com a Thmanyah a adquirir os direitos para o espaço MENA, mas também a CazéTV ganhou projeção ao transmitir o Mundial de Clubes-2025, acompanhada por chats em direto, memes e uma experiência coletiva que transcendeu a simples transmissão do jogo, tendo inclusivamente já garantido a transmissão do Mundial-2026.
Estes exemplos revelam um ponto central: não se trata apenas de ver futebol, mas de viver um espetáculo digital. A audiência já não quer ser apenas espectadora, quer fazer parte da emissão, interagir, comentar, rir e partilhar. Por isso, será lógico criar uma forma de consumo personalizado, à medida do espectador. A pergunta coloca-se: poderá o mesmo acontecer em Portugal?
O consumo desportivo está a mudar de forma irreversível. A geração mais jovem prefere o telemóvel, onde podem incluir-se em comunidades tão importantes quanto o resultado do jogo. Por isso, já não basta mostrar os 90 minutos: highlights, reações em direto, bastidores e narrativas paralelas fazem parte de uma experiência fragmentada, mas integrada. Ligas que crescem mais depressa estão a adaptar-se, criando formatos específicos para diferentes públicos e momentos de consumo.
Este novo cenário traz também riscos que não podem ser ignorados. Há uma dimensão legal incontornável: os contratos de direitos determinam quem pode sublicenciar, e a legislação portuguesa coloca limitações próprias. Há ainda a exigência técnica — garantir qualidade de transmissão, estabilidade e custos de produção competitivos. E, finalmente, a questão da sustentabilidade: será este modelo algo mais do que uma moda passageira ou conseguirá estruturar-se como um novo canal de valorização do produto?
A perspetiva futura parece apontar para uma coexistência e não para uma substituição. Os grandes broadcasters continuarão a ter um papel central, mas os criadores de conteúdos podem funcionar como complemento estratégico: porta de entrada para novos públicos, especialmente os mais jovens, ao mesmo tempo que contribuem para combater a pirataria, ao oferecer alternativas legais, criativas e interativas. Se o futuro é híbrido, a questão já não é se vai acontecer, mas como vamos posicionar-nos."

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