"A sobrecarga dos calendários competitivos é um facto. Mas ao contrário do que diz o senso comum, pode haver argumentos contra factos. Falta é discutir o tema a sério
Contra factos não há argumentos? Claro que há, nem que sejam outros factos que nos levem a relativizar os que levávamos primeiro para qualquer discussão. O segredo está — e por isso existe a indispensável política — em reunir e interpretar os factos, as opiniões e as convicções e tentar dar-lhes forma que seja socialmente aceitável e exequível.
Facto: existe uma sobrecarga de jogos no futebol de alta competição, que pode prejudicar o rendimento regular dos jogadores e aumenta o risco de lesões. Provam-no estudos científicos publicados numa escala já relativamente larga.
Facto: no verão de 2025 a FIFA implementou um Mundial de Clubes que obrigou os participantes a prolongar a época anterior e atrasar o início da que já começou ontem.
Facto: de dois em dois anos disputam-se, à vez, o Mundial e o Europeu, nas mesmas datas do atual Mundial de Clubes, um bocadinho mais para a esquerda ou mais para a direita.
Facto: as provas de seleções não impedem os clubes de iniciar as suas pré-épocas na altura certa, embora sabendo que os jogadores internacionais se juntarão mais tarde, enquanto o Mundial de Clubes obriga a reajuste de todo um plantel.
A partir daqui escorrem opiniões. Entre jogadores, treinadores, dirigentes e comentadores uns falam a favor e outros contra. Já se assistiu, mesmo, a dirigentes que exercendo um cargo estão contra e chegando a outro se revelam a favor. Trocam-se acusações que incluem alegados milhões de euros ganhos ou perdidos. Empresários e jogadores que querem, alegadamente, ganhar mais ou o mesmo dinheiro jogando menos vezes. Instituições que gerem o negócio e querem ter cada vez mais jogos para vender a outras instituições que os transmitem e monetizam pelo mundo inteiro. Ou pelo mundo virtual inteiro. Isto tudo alegadamente.
O mal, permitam-me, tem sido esse: alegar-se muito e discutir-se pouco onde os temas têm de ser discutidos. Sou jornalista, ainda por cima com responsabilidades neste jornal, e a minha área de negócio, alegadamente, tem muito a ganhar se a discussão das questões sérias for sendo feita, à vez, em soundbytes que correm o Mundo no espaço máximo de uma hora, em latitude e longitude.
Importante, para o futebol, era que todos os agentes se sentassem à mesa, ou em várias mesas, para perceber onde vai isto parar. O que não vai acontecer."

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