"O Mundo juntou-se para chorar a morte de Diogo Jota, o saco de dor que carrega a família não tem peso nem medida, mas devia fazer-nos refletir. Mais empatia, por favor. Porque a vida é um sopro
A 112.ª edição do Tour arranca no sábado e com a mais emblemática das provas de ciclismo do Mundo as longas tardes que se estendem nos sofás, nos cafés de aldeia. Todos querem ver João Almeida, o mais promissor ciclista – ou corredor como insistia o saudoso Fernando Emílio – português, depois de Joaquim Agostinho. O corredor das Caldas da Rainha venceu a Volta à Suíça há duas semanas e agora, claro, todos querem vê-lo brilhar no Tour. No Tour, onde o melhor que algum português conseguiu foi Agostinho, terceiro, há quase 50 anos, mas João Almeida carrega essas mesmas expetativas, além da bandeira portuguesa que já mostrou orgulhoso em outras ocasiões. Expectativas muitas vezes sem fundamento lógico desportivo, mas emocionalmente sem medidas. Almeida vai subir as montanhas francesas com um saco às costas cheio dos sonhos dos 10 milhões de portugueses. Ele é o melhor português, se calhar o melhor de sempre, não chega?
Hoje, o tenista Nuno Borges (37.º) vai jogar a terceira ronda em Wimbledon! Nunca um português chegou tão longe nos três Grand Slams da temporada e agora o tenista português vai discutir um lugar nos oitavos de final com o russo Karen Khachanov (20.º ATP). Há muito mais hipóteses, de acordo com a hierarquia mundial, de perder do que ganhar. Ficaremos todos orgulhosos se miúdo maiato continuar a dançar na relva britânica, mas a realidade é que é difícil deslizar na mesma, quando, leva consigo um saco às costas com a convicção de um país que ontem encheu notas e noticiários a falar dos seus feitos.
Daqui a menos de duas semanas, Miguel Oliveira, o primeiro português no MotoGP, onde apenas entram 22 pilotos (!) do Mundo inteiro, vai lançar-se a mais de 300 km/h no circuito de Sachsenring, para lutar pela sua manutenção entre a elite e, consigo, carrega um saco com os olhares de 10 milhões de portugueses que acham que tem de andar sempre na frente, ganhar todos os GPs.
Seja João Almeida a subir o Mont Ventoux, seja Nuno Borges a servir o melhor que pode em Wimbledon, seja Miguel Oliveira a rodar a mais de 300 km/h na Alemanha, todos levam com eles os sonhos portugueses, orgulhosos da bandeira como tantas vezes mostraram ao longo de carreiras únicas que construíram, muitas vezes em circunstancias inferiores aos adversários que enfrentam sem medo. Será que podem também levar, além dos sacos, o apoio dos mesmos 10 milhões, só pelo facto de já lá estarem? O resto eles sabem, conhecem as expetativas e lutam por elas.
Há muitos mais Almeidas, Borges e Oliveiras espalhados pelo Mundo e pelo desporto. Diogo Jota morreu tragicamente. Choramos todos a partida injusta e demasiado cedo. Ele, tal como muitos outros carregou o seu saco de pedras, mas nada se compara ao peso que a sua família terá de levar para o resto da vida, uma dor que ninguém ousa imaginar e que só nos pode deixar, a todos, solidários.
E, já agora, mais empáticos porque a vida é um sopro."

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