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quarta-feira, 23 de abril de 2025

Deixem jogar o Fernando


"Chalana viu, por duas vezes, impedida a sua estreia de águia ao peito, mas ainda foi a tempo de estabelecer um recorde

Durante a formação, há um sonho que é unânime entre os jogadores, a estreia pela equipa principal. O monumento á aguardado por todos com enorme expectativa, chegando mesmo a idealizá-lo. Passa-se a partilhar o balneário com ídolos, ser reconhecido pelos adeptos e poder demonstrar o seu talento. Jogar peça equipa principal é o ponto de partida da carreira! Por muito bom que se seja na formação, a verdadeira prova de valor é enquanto sénior.
Em meados da década de 1970, havia um atleta, recentemente contratado ao Barreirense que se destacava na formação do Benfica, Fernando Chalana. Nas primeiras semanas de pré-época de águia ao peito, deixou deslumbrados dirigentes, adeptos e imprensa, com jogos ao serviço dos juniores e das reservas, apesar de ter apenas 15 anos. Na estreia oficial, para a 1.ª jornada do Campeonato Nacional de Juniores, na vitória frente ao Belenenses por 3-1, foi 'o grande atrativo. Demonstrou realmente boa capacidade técnica, recepção e passe de bola perfeitos, muita intuição e, como é natural, alguma verdura', apenas se lhe apontado 'um defeito: joga sem caneleiras (o que é perigoso) e de meias caídas (o que é feio)'.
Ao longo da época, replicaram-se as exibições de elevada qualidade, em que demonstrava uma capacidade de drible ao nível dos predestinados. Era um jogador entusiasmante, dos que elevam o futebol para um patamar artístico. O treinador da equipa de honra, Milorad Pavic, que tinha dado o aval para a sua contratação, começou a chamá-lo constantemente, a incorporá-lo nos treinos. Convencido da sua qualidade, resolveu convocá-lo para a final da prova-rainha, frente ao Boavista. No entanto, 'a FPF negou o pedido para que o jovem Chalana jogasse a final da Taça de Portugal. Tinha pouco mais de 16 anos'. O Benfica acabou por perder o encontro por 2-1, e Chalana a oportunidade de se estrear pela equipa de honra.
Na temporada seguinte, com Mário Wilson no comando técnico dos encarnados, o Velho Capitão quis promover a estreia de Chalana frente ao Bayern Munique, para  a 1.ª mão dos quartos de final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Para tal, foi pedido à Federação Portuguesa de Futebol para que não fosse para a Madeira com a seleção de juniores, seguido de 'um faxe para a UEFA solicitando autorização para que Fernando Chalana fosse utilizado' no jogo perante os alemães. Contudo, a UEFA não permitiu, e o jogador foi ao encontro da seleção.
De regresso, finalmente pôde estrear-se pela equipa de honra. Perante o Farense, foi lançado após o intervalo, rendendo Toni, e revelou, 'de facto, qualidade. Bons pés (melhor o esquerdo), desenvoltura (não pareceu intimidado), três ou quatro aberturas bem vistas, tendencialmente visado para o ataque, mas não descurando a marcação do adversário'. Aos 17 anos e 25 dias, tornou-se no jogador mais jovem a atuar no principal escalão nacional. Seriam apenas os primeiros passos de um dos melhores jogadores da história do futebol português.
Saiba mais sobre o Pequeno Genial na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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