Mais do que um estádio... uma verdadeira casa!

"A antiga Catedral evoca sempre memórias entre adeptos e atletas, mas também entre funcionários, que aí trabalharam e viveram

Durante os quase 50 anos que o antigo Estádio da Luz esteve em funcionamento, passou por transformações, com várias fases de construção, tais como as torres de iluminação, o fecho do 3.º anel e a expansão da Cidade Desportiva, com o propósito de melhorar as condições das suas instalações sociais e desportivas, que marcaram a vida não só dos atletas e dos adeptos, mas também dos funcionários do Sport Lisboa e Benfica.

O Clube decidiu abrir as portas da sua casa para receber os recém-funcionários, que vinham de várias partes do país à procura de melhores condições de vida, oferecendo um contrato com casa, água e luz. E,  assim, foram criadas habitações sociais que receberam alguns colaboradores com as suas respetivas famílias.

A partir dos anos 1960, nos baixios do 3.º anel, perto de uma antiga reprografia, foram adaptados vários espaços para receber estes funcionários. Estes locais não haviam nascido com o propósito habitacional, mas tinham as condições necessárias para servir de residência.

Só em 1985, com o fecho do 3.º anel, é que surgiu a oportunidade de o Clube construir casas próprias para alojar quase 20 famílias. Este projeto tinha como objetivo construir seis apartamentos com melhores condições de habitabilidade, nas zonas interiores e exteriores do estádio. Encontravam-se localizadas perto das garagens, oficinas e jardins do estádio. Eram apartamentos das duas assoalhadas, cozinha e casa de banho e luz natural.

Foi uma empreitada de importância tal, que se realizou uma cerimónia com a presença do presidente Fernando Martins (presidiu entre 1981 e 1987) e outros membros diretivos, para entregar as chaves dos novos apartamentos aos colaboradores.

Todo o estádio tinha de funcionar como um relógio suíço, e, para isto acontecer, os colaboradores que trabalhavam na lavandaria, nas oficiais de reparação, na manutenção do relvado e na limpeza tinham de ser organizados e eficazes nas suas tarefas, já para não falar do tempo que se poupava nas deslocações até aos seus postos de trabalho.

Para estas famílias, viver e trabalhar aqui era uma experiência e tanto. Toda a gente se conhecia, nos jogos ouvia-se o público a celebrar vitórias e chorar derrotas, e podiam praticar desporto sempre que quisessem.

Até hoje, memórias são evocadas e recordadas com muito carinho e nostalgia por estes funcionários e pelas suas famílias, que passaram tantos anos das suas vidas neste espaço. Saiba mas sobre estas vivências na exposição temporária Um Por Todos e Todos Pelo Estádio: Memórias do Estádio da Luz (1954-2003), no Museu Benfica - Cosme Damião."

Isabela Sena, in O Benfica