"Existe uma névoa sobre o consumo do desporto em Portugal, com especial incidência e impacto no futebol, dada a sua enorme popularidade. Haverá talvez um défice estrutural de cultura desportiva que afeta jogadores, treinadores, dirigentes, mas também os adeptos.
Às vezes parece ser necessário recordar aspetos essenciais sobre a natureza do desporto: ninguém consegue ganhar sempre, deve-se cumprimentar quem ganha, o árbitro é independente e as épocas desportivas são longas pelo que só se ganha no final.
Demasiados jogadores fazem demasiadas fitas demasiadas vezes. Procuram amarelar e expulsar adversários ou queimar tempo para que as suas equipas possam ganhar ou empatar. O método é ensinado desde pequenos pelo que passamos a vida a ver mergulhos de futebolistas acompanhados por uma sinfonia de gritos em todos os relvados deste país.
Alguns treinadores montam os famosos autocarros no relvado transformando alguns jogos de futebol num espetáculo deprimente. Quem paga bilhete, quer naturalmente que a sua equipa vença, mas também espera ver espetáculos futebolísticos bem jogados.
Muitos dirigentes lideram os seus clubes num horizonte semanal. O planeamento é fraco, a pressão de resultados imediatos dos adeptos é muita e a influência dos jornalistas é significativa. O chicote estala assim com força e muitas vezes nos treinadores e os jogadores rodam nas duas janelas de transferências.
Os adeptos querem ganhar todos os jogos, sempre com goleadas com direito a 'olés' e que os seus clubes apresentem resultados financeiros espetaculares todos os anos. Ao mesmo tempo querem pagar pouco pelos bilhetes e pelas assinaturas de televisão e que as suas equipas contratem o Halland, o Mbappé e o Rafinha.
Esta panela de pressão onde todos se metem origina um ambiente pesado em volta do futebol português. Somado ao enorme tempo de antena que os meios de comunicação social e as redes sociais permitem, o mundo do futebol anda sempre em cima do risco da confusão.
Bem sei que não é fácil combater este contexto, mas também sei que, se não se fizer nada para o contrariar, todos perdem: clubes, atletas, treinadores, dirigentes e, principalmente, os adeptos. Recomendo assim uma forte reflexão de todos os envolvidos nesta magnífica modalidade a pensarem na sustentabilidade da mesma para os próximos anos.
Respirem fundo!"
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