"1. No fim do último jogo no Funchal intrigou-me o que ouvimos de um dos capitães da Equipa, ao considerar que 'Não conseguimos explicar isto. Tivemos duas ou três oportunidades muito, muito claras e, depois, não há explicações para o que se passa. Parece que tudo nos acontece. Mas a culpa é inteiramente da nossa parte, dos jogadores'.
2. 'Isto', assim dito depois daquele jogo com tão prometedor início e tão inusitado fim, logo me pareceu muito mais do que como um mero desabafo circunstancial de incredulidade e perplexidade, da parte de um jogador do Benfica.
3. 'Isto', e o resto, afinal, era a justificação para duas derrotas consecutivas no Campeonato.
4. Mas, infelizmente, era bastante mais do que isso: 'isto' havia sido, desde o mês de Fevereiro, a quinta desfeita em todos os torneios que disputamos.
5. E, pelo que me apercebi, houve muitos Benfiquistas a quem 'isto' surgiu como uma declaração de passividade e conformação perante 'tudo' aquilo que nem o Povo do Benfica, nem a Cultura, nem a História do Benfica e nem muito menos a Direcção, poderiam aceitar de ânimo leve.
6. Por fim, não menos grave, no contexto de uma feroz competição sem limites quanto ao descaramento e às poucas-vergonhas com que os nossos inimigos tinham voltado a interpretar o jogo do futebol fora (a dentro) das quatro linhas, 'isto', depois de noves-fora-nada dos últimos seis anos deles (com as contas e os resultados que se lhes conhecem e os envergonham nacional e internacionalmente), este nosso inaudito conjunto de desempenhos e desfechos, acabava a representar a mais iníqua e regeneradora dispensa de 'oxigénio' que tais velhacos - estendidos num anunciado leito de morte estrutural - podiam beneficiar agora, da nossa parte...
7. Mas, de facto, no mundo do Futebol, as coisas são assim. O futebol chega a ser cruel: e quase sempre que um treinador parte sem o que esperássemos (nem sequer o desejássemos), a culpa não morre sozinha.
8. E, ao confessar que 'não conseguia explicar', o jogador pelo menos teve o mérito de ser sincero e mais revelador do que talvez quisesse ser.
Mas, para espanto dos Benfiquistas."
José Nuno Martins, in O Benfica
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