"O futebol serve precisamente para sublimar essas emoções e descarregar as frustrações do dia a dia. Se até pessoas civilizadas são capazes de perder a cabeça e de fazer coisas impensáveis, o que se poderia esperar então de verdadeiros energúmenos e indivíduos sem educação?
O que se passou na noite de domingo no estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, não foi nada bonito. A atitude dos adeptos do Vitória, que imitavam um macaco de cada vez que Moussa Marega tocava na bola, destacou-se pela baixeza – até porque o maliano já lhes deu muitas alegrias no passado.
Mas o coro de condenações a estes insultos também parece ele próprio exagerado. Até porque atitudes deste género infelizmente são muito comuns no meio do futebol. Só quem nunca foi a um estádio pode achar estranha a situação. E isto tem uma razão de ser muito simples: o futebol consegue trazer ao de cima o pior que há nas pessoas, os seus instintos mais básicos e primários. Diria mesmo mais: para muitos, o futebol serve precisamente para sublimar essas emoções e descarregar as frustrações do dia a dia. Se até pessoas civilizadas são capazes de perder a cabeça e de fazer coisas impensáveis, o que se poderia esperar então de verdadeiros energúmenos e indivíduos sem educação?
Um dos problemas é que os dirigentes, em vez de contrariarem estes instintos tribais, gostam de os acicatar. Veem o futebol como uma guerra em que vale tudo e acham que quem insulta mais e agride mais os adversários está em vantagem. Promovem esta cultura de ódio através das suas declarações mas, sobretudo, através dos seus procuradores em programas infindáveis (na quantidade e na duração) que monopolizam o espaço televisivo. Não é o caso do Vitória de Guimarães, que até nem tem representação nesses fóruns – mas todo o clima em torno do futebol fica contaminado. E depois admiram-se que haja situações menos edificantes nas bancadas...
O caso Marega pode pois chocar alguns, mas não surpreende. O que surpreende é talvez a rapidez com que os principais responsáveis políticos reagiram. E até a PGR já anunciou ter aberto um inquérito. Assim as autoridades actuassem com a mesma celeridade em casos mais graves mas que, como não envolvem o desporto-rei, não têm nem um décimo do mediatismo."
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