"A esta distância e com outra frieza, o incidente com Marega deve merecer alguma reflexão e várias considerações. A primeira é a de que é errado (e muito injusto) confundir a árvore com a floresta. Guimarães é uma cidade lindíssima, o Vitória SC um clube gigante e a maioria dos seus adeptos devotos e apaixonados. A segunda é a de que foi claro, para todos, que ninguém estava à espera que aquilo acontecesse. E por "aquilo" não me refiro ao facto de meia dúzia de jumentos divertirem-se a imitar sons de babuíno. Refiro-me à coragem do atleta em dizer: "Basta!!"
A esta distância e com outra frieza, o incidente com Marega deve merecer alguma reflexão e várias considerações.
A primeira é a de que é errado (e muito injusto) confundir a árvore com a floresta. Guimarães é uma cidade lindíssima, o Vitória SC um clube gigante e a maioria dos seus adeptos devotos e apaixonados. A segunda é a de que foi claro, para todos, que ninguém estava à espera que aquilo acontecesse. E por "aquilo" não me refiro ao facto de meia dúzia de jumentos divertirem-se a imitar sons de babuíno. Refiro-me à coragem do atleta em dizer: "Basta!!".
A reacção - inesperada e impactante, fruto da sua personalidade e temperamento - apanhou tudo e todos de surpresa. Curiosamente, esse seu temperamento deu o mote para que alguns "atiradores de areia" recordassem-nos que o franco-maliano também tinha provocado as bancadas, em atitude que já não era nova.
Percebe-se a fuga para a frente. Tentar descredibilizar a idoneidade da vítima é modus operandi comum nas salas de audiências. Neste caso, a teoria fez-me lembrar um filme protagonizado por Jodie Foster (violada repetidamente num bar cheio de cowboys). No tribunal, o juíz perguntou-lhe: "Você foi para lá de mini-saia... estava à espera de quê?!".
Fazer da vítima o homicida é macabro.
Faz lembrar-me outra história, real, de um tipo que espetou mais de cinquenta facadas num amigo só porque ele lhe tinha dado um estalo na cara. Alegou... legítima defesa.
Quem não anda a dormir é o país e o mundo. As reacções de condenação foram avassaladoras, sendo que a grande dificuldade aí foi distinguir as genuínas das hipócritas. As verdadeiras das falsas.
É importante chamar as coisas pelos nomes e a verdade é que uma percentagem considerável de "Je suis Marega" são conhecidos pirómanos da nossa praça. Pirómanos profissionais, com licenciatura, mestrado e doutoramento.
Confesso, não deixa de ser surpreendente a forma como tantos usam agora asas de anjo, quando vestem diariamente a pele de diabo. Será que eles acham mesmo que nós não sabemos quem são?
Outra das expectativas também é a de perceber quando é que as firmes palavras de repúdio passarão a sanções efectivas.
Sabemos que há regulamentos e leis para cumprir e que, em boa verdade, quem tem o poder de decisão está literalmente algemado. Mas também sabemos que quando a pressão atinge determinado patamar, as coisas podem acontecer ainda que de forma excepcional. Quanto às "armas que agora existem", bem, têm que voltar a ser revistas. Só se combatem crimes graves com artilharia pesada e por cá já se percebeu que a melhor prevenção é a punição.
A nota final vai para uma triste constatação: foi preciso que um profissional de futebol conhecido abandonasse o terreno de jogo, para que uma nação inteira despertasse para uma realidade que existe há décadas. Mas a intolerância racial é apenas a face visível de várias desigualdades que proliferam na nossa sociedade. O desporto, com o futebol à cabeça, apenas a montra maior para que muitos a exerçam de forma (quase) impune.
A verdade é que, todos os fins de semana, árbitros, atletas, treinadores, jovens jogadores, roupeiros e guardas de campo são insultados, diminuídos e ridicularizados por serem "pretos, monhés, gordos, anões, marrecos, zarolhos ou coxos"
É um festival de horrores a céu aberto, perante a passividade de tantos que agora destilam moralismo impoluto... em nome de Marega. Que jeito que deu.
E vergonha na cara, não?"
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