"O tempo da justiça (...) é cada vez mais um tempo em que a avaliação popular está para lá da devida deliberação judicial
1. Foi um empate saboroso. Estamos na final da nova Liga das Nações e vamos organizar essa final. Ontem tivemos uma primeira parte pouco conseguida e conseguimos em momentos da segunda parte perturbar uma Itália bem diferente - para melhor - daquela que perdeu no Estádio da Luz. Estamos uma vez mais numa fase final de uma competição de selecções. A nossa Federação está de parabéns. E Fernando Santos e todos os jogadores merecem um aplauso e um cumprimento especiais. Agora só falta saber os outros três difíceis adversários. E sonhar. E agarrar a sorte. Já que a excelência e a competência fazem parte do ADN desta Selecção de Portugal! Da Selecção de todos nós!
2. Nesta primeira edição da Liga das Nações, e na Liga A, - ou seja, na liga das principais selecções! - há, para já, uma grande surpresa: a Alemanha desce à Liga B e entra, assim, para o Pote 2 do próximo sorteio do Europeu de futebol. O que significa que nos poderá calhar em sorte já que Portugal estará no Pote 1. E amanhã a Holanda frente a esta Alemanha despromovida poderá, no caso de vitória, ultrapassar a campeã mundial em título, a França, e ambicionar regressar aos grandes palcos do futebol mundial. Ela, Holanda, que esteve ausente do Mundial da Rússia. Tal como hoje a Espanha estará com os olhos e ouvidos no Inglaterra - Cróacia fazendo votos para um empate, o único resultado que lhe permitirá manter o primeiro lugar do grupo. E a Suíça lutará com a Bélgica a liderança do denominado Grupo 2 da Liga A. E na Liga B já há promoções. A Dinamarca, a Ucrânia e a Bósnia já subiram ao principal escalão desta Liga das Nações. Uma última nota nesta nova Liga. Gibraltar venceu dois jogos. Andorra e Liechtenstein um. Só San Marino não conquistou qualquer ponto e não marcou qualquer golo. Tudo isto na Liga D, na liga das Federações menos cotadas! Mas na Liga A, Alemanha e Islândia apenas marcaram um golo. Singularidades de uma competição que já provocou surpresas - e grandes - nesta sua primeira edição!
3. A justiça comum tem preenchido as nossas atenções. Ficamos a saber que o legítimo direito à greve pode perturbar o sagrado direito à liberdade e ficamos a conhecer imagens e mensagens que levam alguns a profundas ponderações acerca da justeza de decisões judiciais face aos indícios publicamente evidenciados. O tempo da justiça, e também a leitura ponderada de todos os dados constantes de um determinado processo, é cada vez mais um tempo em que a avaliação popular está para lá da devida deliberação judicial. E mesmo alguns que já sofreram na pele esse tipo de rápido julgamento em vez de optarem pelo devido silêncio resolvem enunciar palpites e proclamar opiniões. Na verdade vivemos, entre nós, tempos curiosos. As televisões recebem em bruto imagens constantes de um processo e não precisam de as editar. São repetidas em bruto, abundantemente discutidas e, até, quase que cientificamente analisadas. O tribunal de júri reúne-se quase que ao mesmo tempo que a telenovela passa em outra televisão ou em outro canal. É a justiça bem aberta, vista por todos. Agora todos sabem os limites da detenção para primeiro interrogatório, que os indícios do crime de terrorismo permitem buscas excepcionais e que os tribunais, em certas situações - não explicadas - fazem «informações à comunicação social». E até as numeram. Informação seis, informaram sete, porventura um dia destes informação oito. E numa singularidade singular a justiça comum quase se despe perante actos e factos que o futebol suscita e provoca. E nem estas situações levam à redução do IVA para o futebol! E sem que o poder da justiça, e naturalmente o próprio poder político, se pareçam preocupar com tudo a que assistimos e tudo o que vimos. Mas importa não esquecer Confúcio quando disse que «ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles»!
4. Quatro notas bem especiais. Em sub-21 estamos a um pequeno passo do Europeu. A vitória na Polónia foi estimulante e é moralizante. Chaves vai empurrar esta jovem Selecção e vamos chegar, cheios de esperança, a um Europeu que poderemos conquistar. A segunda nota para sublnhar a entrevista que Jorge Jesus concedeu a este grupo de comunicação. Na sua edição em papel e na Bola TV vimos o cidadão e o homem, o treinador e o amigo, o emigrante e a sua imensa alma. E o que disse, e como disse, merece ser apreciado e sentido, diria que vivido. São momentos de uma vida vivida. Bem vivida como se pressente das imagens de Alcochete! A terceira nota para cumprimentar o Jorge Viegas pela sua conquista da liderança da Federação Internacional de Motociclismo. É mais um português no topo de uma das grandes e motivantes federações internacionais. E de uma modalidade que nos apaixona, nos faz vibrar e que tem jovens e talentosos praticantes portuguesas e que levam a nossa bandeira e o nosso hino a diferentes palcos do Mundo. A quarta nota para vivamente cumprimentar este jornal pelo regresso de Jorge Valdano às suas páginas. Valdano é um dos grandes nomes do futebol contemporâneo. Do futebol que jogou e do futebol que comentou. Do futebol que percebe e do futebol que conhece. Do futebol que é um jogo e, logo, um jogo infinito! Ontem já tivemos o privilégio da sua primeira e deliciosa crónica. São reflexões que nos preenchem e neste tempo em que o instantâneo nos domina é reconfortante ler - e reler - uma serena e profunda análise acerca do futebol e dos seus reais protagonistas. E por vezes, e como nos ensinou Alain, «reflectir é negar aquilo em que se acredita»! É mesmo!
5. (...)"
Fernando Seara, in A Bola
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