"Os Jogos do Rio já eram. Uso o pretérito imperfeito porque se tivesse usado o perfeito, diria que os JO/16, já foram. Relacionar JO com gramática não é tão louco quanto parece. Os gregos foram pioneiros no estudo da estrutura da língua e nos Jogos. Porém, seja qual foi o tempo - perfeito ou imperfeito - o certo é que da trilogia Desporto/JO/Portugal, raramente tem resultado algo que satisfaça aqueles para quem sucesso significa pódio, medalhas ou, vá lá, diplomas. Curiosamente, querem gramática quer em desporto, tendemos para nos atrasarmos: quanto à primeira, só no século XVI alguém se preocupou com a arte; e em desporto tem sido difícil estar em dia com o que se sabe e vai fazendo em países do nosso nível e possibilidades. Basta comparar expectativas com resultados, interpretar justificações e agir em caso de falhanço evidente. Mas, tirar satisfações e responsabilizar alguém não está no nosso ADN.
Por mais que evite, surge-me logo a lenda de Sísifo. E não por haver desportos onde é evidente que iremos passar mais quatro anos a empurrar promessas montanha acima mas porque, como ele, há quem julgue que pode enganar os deuses do Olímpo que, em Tóquio, não perdoarão. Mais um ciclo e aí vêm eleições a todos os níveis. Já abundam promessas vagas e pouco objectivas. É ler, ou ouvir, candidatos. Desde a classe política à dos dirigentes federativos, passando pelos técnicos. E no final, se não forem eles a desaparecer por lhes restar algum pudor, quem pediu, ou pedirá, satisfações?
O que os deuses quiseram mostrar a Sìsifo e raramente retiramos da lenda, é que os mortais não têm liberdade de escolha. Também nós não podemos escolher a sociedade em que vivemos, nem os meios humanos e técnicos de que dispomos e que, em várias áreas, não sabemos rendibilizar. Mas isso não justifica admitir, desde o início de um ciclo olímpico, os objectivos meramente qualitativos que já por aí andam e que, tal como na olimpiada anterior, nunca comprometem que os faz."
Jenny Candeias, in A Bola
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