"Na Europa, o 'aprendiz' está na Champions, pelo menos até amanhã, e o 'génio' não está em lado algum; cá dentro o título reservado desde a 1.ª jornada, mantém-se em aberto à 30.º ...
Apesar do extraordinário desempenho no jogo da Alemanha creio que terá chegado ao fim a brilhante carreira europeia da águia na presente temporada, embora deva haver o cuidado de deixar a porta entreaberta à possibilidade de mais uma surpresa, à imagem de outras que o Benfica nos tem oferecido. Sim, porque convém não esquecer o quadro de desgraça que lhe desenharam no dealbar da época, em que aparece Rui Vitória condenado pela lei do chicote a ser empurrado para a saída, sob olhar choroso dos jogadores, frustrados pela devastadora vaga de fracassos desportivos que lhes prognosticaram.
No entanto, muito pouco do se previra aconteceu. Não passou, afinal, de uma ligeireza de análise em face de resultados que, observados com a distância e a frieza necessárias, se conclui nenhuma anormalidade terem carregado. Em rigor, depois da derrota na Supertaça em Agosto, imediatamente após uma pré-época inabitual, em que arcou a pesada tarefa de refazer a equipa, Vitória teve o azar, socorrendo-me de uma expressão utilizada pelo professor Júlio Machado Vaz sobre o assunto, de apanhar o Sporting por duas ocasiões (Campeonato e Taça de Portugal), em menos de um mês, ainda por cima na fase mais reluzente do leão. Três derrotas que geraram burburinho inaudito, como se fosse possível colocar em causa um projecto consolidado e de rumo perfeitamente definido.
O nevoeiro diluiu-se, entretanto, e a realidade que hoje se nos depara difere imenso daquela que foi vendida como certa há meia dúzia de meses: na Europa, o aprendiz está na Champions, pelo menos até quarta-feira, enquanto o génio não está em lado algum e, cá dentro, o título reservado desde a primeira jornada mantém-se em aberto à 30.ª...
Em relação ao jogo da segunda mão não duvido dos argumentos do Benfica para vencer o Bayern e Guardiola tem-se esforçado nos avisos ao seu pessoal, sugerindo-lhe concentração nesta viagem à Luz. Já lá vai o tempo das vitórias morais, dos azares agitados durante anos para desculpar a nossa fraca pedalada uefeira, mas o um-zero de Munique constituiu desfecho surpreendente, depois de, nas mais recentes visitas lusas a Munique, o Sporting ter levado sete o FC Porto seis.
Se é irrecusável que os alemães construíram situações para ampliarem a vantagem, também o empate esteve iminente e este cenário preocupou Guardiola, na medida em que sofrer um golo em casa retirava-lha a margem de segurança de que desfruta para atacar o jogo de Lisboa com algum conforto. É claro que o Benfica precisa de marcar golos, dois no mínimo, para chegar às meias-finais, e acredito que poderá atingir esse desiderato, mesmo com Jonas ausente e Gaitán em dúvida. Duvido é que não sofra nenhum.
As coisas são como são e quem luta por recuperar o estatuto de gigante europeu sabe que, atingido nível competitivo tão elevado, entre os melhores dos melhores, além da força de acreditar e de ter de jogar sempre nos limites físicos e anímicos, os chamados detalhes assumem relevância que poderá ser de terminante na decisão de uma eliminatória.
Detalhes: três jogos e três golos sofridos com arrepiantes parecenças. No lance que originou o único golo de Munique a selar a vitória do Bayern, cruzamento do lado esquerdo do ataque alemão por Ribéry (falhas de marcação de Pizzi e André Almeida), bola dirigida ao poste mais distante onde Arturo Vidal cabeceou com sucesso (Eliseu desconcentrado). Prova de que os espiões do Bayern descodificaram com minúcia o jogo frente ao Braga. Lembram-se? Hassan pelo corredor esquerdo do seu ataque em velocidade de passeio, cruzamento de costa a costa, e Wilson Eduardo a cabecear ao poste (Eliseu batido). No sábado, em Coimbra, Rafa Soares a ganhar a André Almeida na mesma zona, bola enviada para o espaço de intervenção de Eliseu, o qual, mais uma vez fora dela, assistiu Pedro Nuno para o golo conimbricense.
Um minuto no primeiro caso, dois minutos no segundo e 17 no terceiro, no único remate da Académica à baliza de Ederson. Já sei que se trata de casos diferentes, com intérpretes diferentes e em jogos diferentes. É o costume... De toda a maneira, julgo que no meio de tantas diferenças subsistem pontos em comum. De certeza, enxergam-se algumas semelhanças. Que reclamam tratamento urgente, para amanhã e para o resto da época..."
Fernando Guerra, in A Bola
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