"O novo projecto do Benfica implica estrutura técnica envolvida com as novas urgências. E uma delas é a redução do orçamento global.
1. Ontem, na Arménia, e na sua bonita capital Erevan, Portugal quase que conquistou o passaporte directo para o Europeu de França do próximo ano. A vitória frente à Arménia, no último jogo de castigo de Fernando Santos, foi uma vitória que fica na história. E que nos permite sonho, com muita legitimidade, com o primeiro lugar do nosso grupo de apuramento. Mas diga-se, com verdade, que foi bem melhor o resultado que a exibição. Mas o que se evidencia é a quarta vitória consecutiva de Portugal. Tudo começou, neste apuramento, com a vitória na Dinamarca nos instantes finais. Com o golo de Cristiano Ronaldo. E uma vez mais Cristiano Ronaldo resolveu. Foi determinante. Como em muitos outros jogos. Levou a nossa selecção ao seu colinho. Marcou os três golos da nossa selecção. Foi ele, também, o seu manto protector! E quer Rui Patrício quer Tiago muito lhe podem agradecer. Muito mesmo. Agora, e para além dos particulares face à Itália e à França, é a deslocação, no arranque da próxima época - logo nos primeiros dias de Setembro - à Albânia. Que, ontem, derrotou a França o que é um sério aviso à nossa selecção.
2. Sem avisos a próxima época já começou entre nós. Quase não houve férias. Com este agitado defeso começamos a perceber que na próxima época o ambiente do futebol português será bem tenso. Acompanhando, porventura, a disputa política que vai preencher parte da atenção dos portugueses nos meses que se aproximam. Acredito, mesmo, que vamos viver um verão bem quente. Seja nos diferentes palcos políticos seja nos relvados. A começar, aqui, a 9 de Agosto no Estádio do Algarve - que ontem acolheu um Gibraltar-Alemanha para o Europeu de França! - seja, acima de tudo, fora dos relvados. No interior dos estádios ou na proximidade dos adeptos. E o presidente do Futebol Clube do Porto já deu, na passada sexta feira, o mote. Próximo dos adeptos falou de arbitragens e de fiscais de linha e equacionou, com clara antecipação, as linhas de um discurso que arrancou nas vésperas do Santo António, que continuará - estou convicto - no São João, que será alimentado no São Pedro e que, no regresso ao trabalho das diferentes equipas, terá recordações permanentes. É que, como dizia Michel Platini, em Julho de 1983 o problema do futebol «são os resultados». E os resultados são determinantes. A todos os níveis. Já que eles ajudam a perceber que o desporto - aqui o futebol! - é um dos únicos domínios - diria eu o único! - que funciona através de uma «oposição de extremos». E entendendo esta característica apreendemos as disputas e as alianças, as paixões e as traições!
3. O Benfica apresentará, amanhã, Rui Vitória como seu novo treinador. Assente que está a poeira - bem relevante - suscitada pela contratação de Jorge Jesus pelo Sporting é chegado o momento de apresentar o projecto estratégico do Benfica para os próximos anos. E o projecto implica uma estrutura técnica envolvida com as novas urgências do Benfica. E uma delas é a redução do seu orçamento global com a sua equipa principal de futebol. Sem esquecer, em paralelo, a necessidade de, em cada época, potenciar a realização de importantes receitas extraordinárias com a alienação de jogadores para diferentes mercados, e, principalmente, para os relevantes mercados europeus ou para os emergentes mercados, como o americano ou o chinês. Face à nova realidade do Sporting e face às dores de «não resultados» que atingem o Futebol Clube do Porto, a próxima época poderá - e deverá - ser uma época de transição. É determinante que o Benfica tudo faça para conquistar, de novo, a Liga. O tri! Daí uma combinação entre a essência do projecto e a utilidade da época. E é este o grande desafio da próxima época. Sem que se possa aceitar qualquer híper relevância à conquista da Supertaça. A não ser que o Museu Cosme Damião ficaria com mais um troféu a enriquecer a sua imensa galeria. A mesma onde, amanhã, Rui Vitória será apresentado e iniciará o seu novo e bem desafiante percurso profissional. Com a certeza que conhece a casa, o ambiente, o fervor e a paixão. Agora, e como resulta do seu interessante livro publicado em finais do ano passado, vai arrancar, na prática, a «arte da guerra»! Não apenas para treinadores. Mas, sim, para todos os benfiquistas!
4. Estão a decorrer em Baku, capital do Azerbaijão, os primeiros Jogos Europeus. Que são uma interessante iniciativa nestes tempos de crise da ideia de Europa! Ontem a nossa selecção de futebol jogou na Arménia. Ao longo da semana estagiou na Geórgia. Falamos do Cáucaso. Ali estão estes três estados. Ligados por fronteiras em certos casos não reconhecidas. E que suscitaram múltiplos e dramáticos conflitos históricos. Uma guerra entre a Arménia e a Geórgia. Outra entre a Arménia e os azeris. O interessante é que a Arménia - com o seu patriarca a ter um Papel relevante no estado! - faz fronteira com dois gigantes da zona, a Turquia - cuja relação com a Arménia é de uma dor terrível! - e o Irão. E tem bases militares russa e americana no seu pequeno território de 29.000 km2! Quando há bem poucos anos visitei Erevan percebi bem a imensa rivalidade com os seus vizinhos, as terríveis marcas da história e a sua natural desconfiança. Mas também percebi a força da diáspora arménia, que nós conhecemos na figura de Calouste Gulbenkian e da sua, nossa, fundação! E quando fui recebido pelo Patriarca arménio bem me perguntou, sabendo da minha nacionalidade, pelo Cristiano Ronaldo. Estou certo que, ontem no final do jogo reforçou a admiração que então me evidenciou pelo nosso capitão. Os três golos, o seu hat trick - o terceiro consecutivo da presente época! - fica na história dos confrontos, sempre difíceis, das duas selecções. Confrontos recentes já que o futebol arménio só nasce em 1993! Mas o que fica é, uma vez mais, a história. E ela é feita por homens concretos. Que a constroem. Como Ronaldo. Mas que também a contam ou a recordam. Como acontecerá a todos aqueles e todas aquelas que participam nos primeiros Jogos Europeus! Na capital da terra do fogo!"
Fernando Seara, in A Bola
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