"Saída de Garay é um dos momentos do jogo de Amesterdão; palavras de Jesus e de Filipe Vieira é o momento depois.
Bela a final da Liga Europa desta quarta-feira, fantástico, deu para perceber mesmo pela televisão, o ambiente, emotivo e até espectacular do jogo, cruel a derrota, e sobretudo como ela se confirmou, para o Benfica. Veja-se a coisa pelo lado de quem ganha e imagine-se a louca e descontrolada explosão de alegria, agora entre os seguidores do Chelsea, há uma semana entre os adeptos do FC Porto. Há uns anos, ali pelo final da década de 90, a crueldade bateu à porta de um Bayern de Munique que tinha a final da Taça dos Campeões Europeus na mão e, nos últimos instantes, a deixou fugir para um Manchester United que ressuscitou em segundos para um sucesso absolutamente inesperado e surpreendente.
Como diria uma companheira jornalista, o futebol é isto mesmo, tem três resultados possíveis, e tanto se marcam golos nos primeiros segundos de um jogo como nos últimos, e de frase feita em frase feita, impossível ignorar como até ao lavar dos cestos é vindima.
Ponto de ordem à mesa, porém, para deixar o palpite - sim, apenas o palpite - de como o Benfica não teria provavelmente sofrido aquele segundo golo em Amesterdão se Ezaquiel Garay ainda estivesse em campo...
Nesse sentido, o momento da saída de Garay não deixará de ser um dos momentos da final, um dos momentos negativos, claro, para os encarnados, porque Jardel, o substituto do argentino, acabou por ser o infeliz contemplado com o erro de marcação a Ivanovic que permitiu à equipa londrina chegar ao golo da vitória.
Sim, Garay também fica negativamente ligado ao golo de Fernando Torres, o primeiro do Chelsea, ao não conseguir travar o contra-ataque adversário no meio-campo. Garay ainda correu desesperadamente até à baliza de Artur e por pouco não impediu a finalização com êxito do avançado espanhol.
A verdade é que com Garay em campo o Benfica mostrou sempre eficácia no modo como defendeu os lances de bola parada e por isso fica pelo menos a idade de que voltaria a consegui-lo com o argentino em vez de Jardel, empurrando assim naquela altura o jogo para o merecido e justificado prolongamento.
Jardel, esse pagou caro o preço dessa forçada substituição. Cruel. Porque não a mesma coisa entrar em campo para atacar ou para defender. É muito mais ingrato entrar para defender, porque se exige maior concentração a quem defende e porque a quem defende se perdoa menos o erro e porque o erro de quem defende é sempre muito mais fatal. O pobre Jardel ficou colado ao relvado e quando deu por ele já Ivanovic estava no ar; olhou para o adversário e limitou-se a vê-lo, ao sérvio compatriota de Matic, fazer aquilo que faz tão bem e que tantos golos já valeram ao Chelsea.
Agora fala-se de maldição, da crueldade do minutos 90+2 que tanto fez sofrer os benfiquistas no Dragão e em Amesterdão, até se lembra como os números das camisolas dos autores dos golos do Chelsea (Torres com o 9 e Ivanovic com o 2) faz 92...
Tudo serve para recriar o cenário cósmico e até de alguma forma místico que acaba por envolver duas das derrotas mais marcantes e desoladoras da história do futebol encarnado, que levaram Jesus, em pleno relvado portista, a deixar-se humanamente cair de joelhos ao golo do jovem Kelvin, e os jogadores encarnados a não conter as lágrimas em pleno relvado do ArenA de Amesterdão.
Muito mais, porém, do que a misteriosa e inexplicável forma como a equipa da Luz poderá ou não ter sido levada ao abismo em menos de uma semana - sem que o campeonato esteja, ainda, perdido, como se sabe ., misteriosa continua a questão da continuidade Jesus como treinador benfiquista.
Se me é permitida a interpretação (livre, evidentemente), o que Jorge Jesus pode ter querido dizer, no final do jogo em Amesterdão, ao declarar a necessidade de ter de pensar muito bem no alegado acordo como teria já com o presidente, foi, tão-só, que é nas suas mãos que está a decisão.
Quando se ouviu, depois, o presidente Luís Filipe Vieira, de modo tão afirmativo, garantir a continuidade de Jesus, das duas uma: ou essa continuidade estava mesmo já garantida, ou não estando, como se percebeu pela segunda afirmação de Jesus é difícil não considerar inoportuno o momento escolhido pelo presidente encarnado para dizer o que disse, como já tinha parecido inoportuno o momento em que, numa exclusiva entrevista ao canal de televisão do clube, pareceu dizer mais ou menos o mesmo.
Com Jesus, por seu lado, a declarar o desejo de repensar o futuro, o Benfica tornou-se demasiado refém do treinador.
Não quer dizer que Jesus não fique na Luz. Julgo até que o mais provável é que fique. Porque Jesus merece continuar e porque o Benfica continua a oferecer-lhe indiscutivelmente um bom projecto e porque o Benfica continua a precisar de Jesus.
Ninguém precisa é deste misterioso espectáculo! Nem de outro tabu.
A FRASE: «O Benfica foi melhor e merecia ganhar!», Ramires, ex-Benfica, agora no Chelsea
(...)"
João Bonzinho, in A Bola
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