"Numa tabela científica, um fiscal de linha que valida um golo irregular capaz de dar um título ou fica em primeiro ligar ou fica em úlitmo lugar. Em quarto lugar é que não fica munca.
NUM dia os jornais disseram que André Villas Boas tinha tudo tratado para ser o próximo treinador do Tottenham. Faria todo o sentido. Villas Boas, que tem ascendetes britânicos, nem sequer teria de mudar de cidade. E que maior privilégio há do que poder educar os filhos de pequeninos em bons colégios londrinos?
No dia seguinte os jornais disseram outra coisa: que um grupo de jogadores do Tottenham - as vedetas, precisamente - solicitaram de urgência uma reunião com o presidente do clube, chama-se Daniel Levy, para o convencerem a não contratar o treinador português.
É incompreensível. Villas Boas não foi, de facto, feliz no Chelsea mas foi felicíssimo no Porto onde no seu ano de estreia ganhou quatro competições, três nacionais e uma internacional, a tal Liga Europa que é uma espécie de copa ibérica da UEFA pois que só tem no seu curto galarim emblemas portugueses e espanhóis, melhor dito, periféricos.
Foi óbvio desde os princípios de Villas Boas em Stamford Bridge que os louros conquistados em Portugal não lhe asseguravam o indispensável estatuto de autoridade no balneário do Chelsea nem, muito menos, garantiam o respeito devido pela imprensa inglesa a um treinador incrivelmente jovem que chegou ao futebol inglês obrigado a ser o Mourinho II.
O Daily Mail voltou agora à carga. Foi o tabloide de Londres que noticiou a revolta ds jogadores mais influentes do Tottenham contra a eventual contratação de André Villas Boas para o cargo de treinador. Os «principais futebolistas» dos spurs terão ficado «muito desagradados» com semelhante hipótese porque está ainda fresca a tentativa de «limpeza do balneário» do Chelsea protagonizada, sem sucesso, pelo treinador português.
Posto assim parece que em Inglaterra, a pátria do futebol, não se deu crédito ao ano fabuloso vivido por André Villas Boas no FC Porto: um campeonato, uma Taça de Portugal, uma Supertaça.
A culpa não é de André Villas Boas. E de Sir Alex Ferguson.
O treinador do Manchester United, em 2004, na véspera de jogar com o FC Porto para a Liga dos Campeões, afirmou em conferência de imprensa do alto da sua posição nobiliárquica e com a maior das naturalidades que o FC Porto «em Portugal, compra os títulos no 'Tesco' pois ganha o título português todos os anos». O Tesco, para quem não saiba, e a maior cadeia de supermercados em Inglaterra, com mais de duas mil lojas espalhadas pelo país.
Sir Alex falou em inglês com o seu cerrado e orgulhoso sotaque escocês. Se Ferguson tivesse expressado a sua curiosa analogia em português, fosse qual fosse o sotaque empregue, teria dito qualquer coisa como «compra títulos no 'Pingo Doce'» ou «compra os títulos no 'Minipreço'».
Foi esta desconsideração pelo futebol português a retalho, vinda de quem veio, que tramou Villas Boas em Inglaterra. Ou que, pelos menos, não o ajudou nada a chegar a Londres com um estatuto inquestionável. Campeão do Tesco, enfim, o que é isso para os snobes ingleses?
E nós, em que é que ficamos? Onde é que «continuando a usar a imagem do Sir Alex? Pingo Doce ou Minipreço?
Minipreço. Cá para mim é no Minipreço.
PEDRO PROENÇA foi o melhor árbitro da temporada 2011/2012. Olegário Benquerença, que andou algum tempo a apitar no estrangeiro, foi o segundo classificado da tabela divulgada anteontem pelo Conselho de arbitragem da FPF.
Ainda está na memória de todos a sua enorme actuação no Rio Ave - Benfica da antepenúltima jornada do campeonato do Tesco. Em terceiro lugar surge Jorge Sousa. Hugo Miguel, uma estrela em ascensão, em grande também no Académica - Benfica, fez uma época tão boa que até vai já receber as insígnias de árbitro internacional.
Também há ranking para os fiscais-de-linha. Ricardo Santos deve estar triste porque só ficou em 4-º lugar. Merecia mais, diz o pessoal do Pingo Doce. Merecia menos, muito menos, clama o pessoal do Minipreço, sempre muito indignado. E, lá no fundo, todos têm razão.
Numa tabela verdadeiramente científica, um fiscal-de-linha que valida um golo irregular capaz de dar um título ou fica em primeiro lugar ou fica em último lugar. Em quarto é que não.
São coisas destas que não ajudam em nada a moralidade do sector.
A tabela dos fiscais-de-linha tem, no entanto, mais motivos de curiosidade. José Cardinal, que tão injustamente vê o seu nome emprestado a um caso que não é seu, terminou a temporada na 48.ª posição do ranking do Conselho de Arbitragem da FPF.
48.ª lugar!
Para todos os que, impiedosamente, acusaram durante semanas Paulo Pereira Cristóvão de ser o maior avarento da história do futebol português esta notícia-bomba veio provar que eram de todo exagerados os dois mil eurinhos mandados depositar, à má fila, na conta bancária de um mero fiscal-de-linha de fim de tabela.
Para um 48.º lugar, meus amigos, dois mil euros chegam e sobram. E assim se ajuda o clube. Dois mil euros sempre são 400 contos na moeda antiga. Uma centena abaixo dos quinhentinhos. Sempre queremos ver onde é que isto vai parar.
NO seu jogo de estreia no Euro-2012, o árbitro português Pedro Proença atirou com um jogador irlandês, Keith Andrews, ao chão e os espanhóis aproveitaram para se lançarem numa transição rápida que por pouco não deu em golo.
Foi u momento divertido do melhor árbitro português, do novo António Garrido.
Imaginemo-lo a fazer precisamente a mesma coisa num relvado português, num Benfica - FC Porto ou vice-versa... a atirar com o Moutinho ao chão e a libertar o Aimar para o contragolpe ou vice-versa.
Também havia de ser divertido. Que impere o bom senso.
FAZ hoje precisamente uma semana que, no mesmo dia, quinta-feira, ocorreram três factos que nada tendo em comum acabaram por nos dar a todos uma grande lição de História e uma grande lição de Moral.
No mesmo dia em que o presidente do FC Porto cumpriu de manhã a sua visita anual de cumprimentos à Assembleia da República, o presidente do Sporting passou a tarde a aguardar as consequências do depoimento de Pereira Cristóvão na Polícia Judiciária e o presidente do Benfica terminou a noite a ter de suportar a revolta de alguns associados do clube reunidos em assembleia geral.
Quem é que está bem na vida, quem é?
TAL como aquelas velhas e citadas declarações de Sir Alex Ferguson tramaram André Villas Boas também, por vezes, se pode dar o efeito contrário no que diz respeito a declarações de treinadores.
E exemplo mais actual não há do que o de Paulo Bento e do quanto terá beneficiado, em termos de coesão do grupo que lidera, com as declarações de Carlos Queiroz que antecederam a partida da Selecção Nacional para o Europeu.
De acordo com os relatos dos enciados-especiais ao acontecimento, os jogadores portugueses até podem não estar todos unidos com Paulo Bento mas estão todos unidos contra Queiroz. E isso, aparentemente, já é meio caminho andado.
A coesão é tanta que até decretam blackouts, transportando para uma grande competição internacional - e sem que ninguém os contrarie - as tacanhices do futebol de trazer por casa.
No que diz respeito a jogar à bola, a nossa Selecção tem vindo a melhorar, não haja dúvida. Qualificou-se com muito mérito para os quartos-de-final, proeza em que poucos apostariam perante o desconsolo dos dois jogos de preparação ainda em Portugal e pela derrota, já a sério, sofrida com a Alemanha.
Hoje é com a República Checa e depreende-se, andando na rua, ouvindo falar, que hoje a única preocupação é saber com quem vamos jogar seguir. O optimismo campeia. Seria óptimo que os nossos jogadores não se pusessem a pensar exctamente na mesma coisa, ou seja, no próximo adversário.
Mas não podemos saber no que estão a pensar porque os nossos jogadores estão em blackout e não nos dizem nada. Cortaram relacções com o País que anda com eles nas palminhas."
Leonor Pinhão, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!