"A Irlanda perdia por 4-0 contra a Espanha. Estava, pois, derrotada e terminava o sonho de passar aos quartos-de-final. No relvado molhado por uma chuva persistente, os jogadores jogavam com a alegria de representarem o seu país e de desfrutarem de momentos de emulação profissional.
Nas bancadas, pouco se ouviam os apoiantes de la roja. Em contrapartida, eram bem audíveis os cânticos dos irlandeses, a sua festa e alegria. Tivesse ligado a televisão naquela altura sem saber o resultado e suporia que a surpresa estava a acontecer. No fim, o esplendor de uma festa. Continuaram a cantar, a aplaudir, a regozijar-se, os jogadores a agradecer. Não se via uma manifestação de azedume, um olhar desesperado, um rosto desalentado. A sustentável leveza da alegria. Solidários na derrota.
No meio de guerras intestinas e de obsessões doentias, de manifestações patrioteiras (quando se ganha) ou de críticas acídas (quando se perde), de jogadores em redomas de falsos heroismos e exibicionismos de incontrolada vaidade e sumptuosidade monetária, que bom ter podido assistir, ainda que pela televisão, ao provavelmente mais belo e humanamente rico momento deste torneio! O regresso às origens do futebol. Ao futebol do mais genuíno fair play e do mais convincente júbilio de se jogar. Momentos refrescantes de pessoas comuns a trabalhar no seu ofício, de pessoas comuns a apoiá-los com elegância e saudável entusiasmo, e de um país que, por certo, não faz destes acontecimentos o único clímax da sua identidade e do seu porvir.
É com este espírito à irlandesa que hoje vamos esperar uma vitória de Portugal"
Bagão Félix, in A Bola
PS: Crónica publicada no dia do Portugal - República Checa.
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