"Muitos jornais têm por hábito trazer na última página o editorial. Este editorial de um determinado jornal vinha na última página e era assinado pelo seu director. Até aqui tudo dentro da normalidade. No entanto, quem fosse lendo, linha a linha, reparava que este editorial era veículo de uma confissão. Ou de uma ameaça, depende do ponto de vista. Com ligeireza, por sms, um alto dirigente de um grande clube do norte avisava o assinante director que o Benfica bem podia preocupar-se com treinadores que eles com a sua organização ganhariam 20 dos próximos 25 Campeonatos. Vamos agora supor: suponhamos que o grande clube do norte é aquele que todos nós suposemos logo de início. É uma boa suposição embora esbarre com contrariedades: esse clube que estamos a supor não tem dirigentes, tem apenas um dirigente que, por sinal, também não é alto, é até baixote, de estômago dilatado e físico grotesco.
Mas, mesmo assim, teimemos na suposição, até porque o norte não abunda de auto-intitulados grandes clubes. Ficamos a saber, nesta confissão (ou ameaça), que o alto dirigente (mesmo que seja baixote, pouco importa) não se preocupa com treinadores. Nada que não se suspeitasse há muito: já sabíamos todos, empiricamente, que não são os treinadores que resolvem Campeonatos. É a tal organização de que tanto se orgulham esses curiosos espécimes que têm no Futebol e da vida uma visão tão distorcida que não consegue ser absorvida por mais de meia-dúzia de pascácios. E contra essa organização não há, de facto, nada a fazer. A menos que estejamos, aqueles que não fazem confissões (ou ameaças) atoleimadas por sms, dispostos a guardar prostitutas no figrorífico, a pagar viagens de Verão para o Brasil, a gastar umas notas nas marisqueiras de Matosinhos ou a enfiar um árbitro num carro numa rua escura e levá-lo prazenteiro a tomar um cafézinho a casa do Senhor da Fruta. Por falar nisso: parece que se cumprem oito anos sobre a célebre viagem pelas ruas mais esconsas de Mafamude e do Canidelo. Parabéns ao Madaleno!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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