"Os ingleses gostam de reis e de rainhas. E de duques. E de marqueses. E de condes e barões. Mal viram um cão d'água de pêlo arruivado aproximar-se das rochas brancas de Dover, arranjaram-lhe um tio conde e um primo barão. O cão d'água, orgulhoso, abanou a cauda, como aprendera a fazer com D. Palhaço. E a velha Inglaterra fez com que ganhasse sentido uma antiquíssima máxima lusitana: «Foge cão que te fazem barão! Para onde se me fazem conde?».
Ah! Nada como a bela canalhice portuguesa, à mercê da qual tudo vale, para valorizar o que pouco tem valor!
Ruivo, o fedelho, ganhou parentescos importantes. Será, hoje em dia, muito provavelmente, parente próximo da isabelinha rainha. Conde-barão, enfim! Coisa que a veia plebeia de D. Palhaço não deixava ser.
Perdido em noites quentes e viagens a Roma, presenteando as vistas míopes do papado com flausinas da mais baixa qualidade, D. Palhaço estrebuchou. O seu cérebro caliginoso, mais dedicado à apreciação de febras de porco e papas de sarrabulho, acordou do adormecimento alcoólico a que se dedica diariamente.
Ah! Nada como a bela canalhice portuguesa, à mercê da qual tudo vale, para valorizar o que pouco tem valor!
Ruivo, o fedelho, ganhou parentescos importantes. Será, hoje em dia, muito provavelmente, parente próximo da isabelinha rainha. Conde-barão, enfim! Coisa que a veia plebeia de D. Palhaço não deixava ser.
Perdido em noites quentes e viagens a Roma, presenteando as vistas míopes do papado com flausinas da mais baixa qualidade, D. Palhaço estrebuchou. O seu cérebro caliginoso, mais dedicado à apreciação de febras de porco e papas de sarrabulho, acordou do adormecimento alcoólico a que se dedica diariamente.
Houve quem lhe gritasse: »Alerta!» Mas ele não percebeu. Alerta a que propósito? Quem não tem cão d'água caça com os apitadores do costume. Desde quando o viam sair a correr atrás de bicharocos de estimação que lhe fugiam da casota?
Recostou-se no sofá. Talvez fosse o momento ideal para mandar chamar uma prostituta barata para lhe arrumar a casa subitamente desarrumada. D. Palhaço sorriu para si próprio, imaginando o cenário. Mas, de seguida, vendo que havia ali à mão, de cócoras, alguém que já não precisava de se baixar mais ainda para que se lhe visse o fundilho às calças, regozijou-se com a ironia.
-Agora sim! Tenho um árbitro a mandar nisto!
E de cócoras, como é hábito de quem dá por esse nome."
Afonso de Melo, in O Benfica
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